16/05/2013


                                                        
Dia do nosso índio

Coluna Roda Viva, do jornalista Cassiano Arruda Câmara, publicada na edição deste quinta-feira (16) do NOVO JORNAL

15 de Maio de 2013
Cassiano Arruda Câmara
DO NOVO JORNAL
O dia de hoje deveria merecer uma maior atenção por parte, sobretudo, de segmentos da comunidade acadêmica, acrescida de alguns oportunistas políticos e espertalhões de plantão que continuam tentando criar algum tipo de polêmica em torno da “questão indígena no Rio Grande do Norte”.

Há exatamente 380 anos, no dia de hoje, uma Carta Régia concedeu ao índio Poti o nome de Felipe Camarão. Pela primeira foi outorgado vez a um ameríndio o instrumento de cidadania que só os cidadãos portugueses tinham direito: um brasão d´armas.

Na mesma Carta Régia, Felipe Camarão foi nomeado “Capitão-mor de todos os índios do Brasil”. Terminou sendo um ato político da maior importância porque permitiu que os ameríndios assumissem a cidadania portuguesa, seguindo o exemplo do seu principal líder. Para o bem ou para o mal, este fato representou a renúncia aos antigos hábitos e costumes, e a adesão ampla, total e irrestrita a uma nova cultura. A cultura do colonizador.

Quando um ex-presidente da Funai, entidade responsável pelas políticas indígenas do Brasil, o norte-rio-grandense Mércio Gomes, afirma – com toda autoridade - que no Rio Grande do Norte não existem mais resquícios de qualquer agrupamento de cultura indígena, é possível que seja a conseqüência desta Carta Régia que hoje completa 380 anos.

Num país que permite a auto-escolha da própria opção de raça, e “ser índio” tornou-se profissão para quem assume essa condição, e um ótimo negócio para quem é capaz de manipular esses profissionais, nosso Rio Grande do Norte se coloca como uma exceção, não existindo nenhum território indígena reconhecido.

Mesmo assim, no Censo de 2010, no Rio Grande do Norte, 2.597 pessoas se definiram como índios. Um detalhe importante: enquanto no Brasil o número dos auto proclamados índios cresceu 205%, aqui houve uma redução dessa população, num total de 2.597 indivíduos, mesmo com todos os estímulos oferecidos por “pesquisadores” interessados em “defender” esses índios, sobretudo com a perspectiva de conquista das suas terras ancestrais.

Por conta do calendário promocional, a cada dia 19 de abril é que aparecem alguns dos nossos índios, alguns dos quais com características biofísicas sem similar entre os indígenas, do Alasca até a Patagônia. Nada contra as comemorações do Dia do Índio, mas o dia 16 de Maio deveria merecer uma maior atenção, inclusive sobre o real impacto da Coroa Portuguesa na formação da sociedade norte-rio-grandense.

Felipe Camarão, nosso primeiro herói conhecido, continua pouco estudado, sobretudo fora do contexto de reação, como representante de Portugal, aos invasores holandeses. Mas em determinados momentos seu nome tem servido para denominar alguns procedimentos oficiais, quando se pretende evocar um mínimo de tradição. Aliás, de acordo com os ventos da política estadual, essa prática atingiu também a companheira dele, Clara Camarão, que virou até nome de refinaria da Petrobrás. Embora não se tratasse de uma refinaria de verdade...

Qualquer estudo sério sobre a questão indígena no Rio Grande do Norte não pode deixar de se aprofundar no estudo desse episódio, por menos interesse que possa ter para quem sonha em batalhar para um retorno ao estágio selvagem de nossa primitiva população.

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