29/08/2013

O TEATRO CARLOS GOMES



Por: Gileno Guanabara
               
A “Cidade Baixa”, também chamada “Campina”, situada no salgado das marés da Ribeira, se estendia até as casas da Rua São João. Numa área de 500 metros quadrados foi erigida a Praça Augusto Severo, em homenagem ao pai da aviação. A edificação da praça coube ao engenheiro Herculano Ramos, durante o governo de Alberto Maranhão. Constava a estátua do homenageado, passeios e alamedas, plantas, bancos de madeira e o coreto para as tocatas. Ao meio, o riacho, por onde adentravam as águas do Rio Potengi. Uma ponte principal de concreto dava acesso a atual Rua Câmara Cascudo, em direção à “Cidade Alta”.
As construções que ladearam a Praça Augusto Severo tinham perfil arquitetônico semelhante. Ao Norte, se iniciava a Rua Sachet, desde a esquina do Hotel Avenida, que passou ao nome de Avenida Duque de Caxias. No Poente, se destacava a loja “Natal Modelo” de Aureliano Medeiros que deu o nome à Travessa. Seguia o prédio que funcionou o Cinema Polyteama, algumas residências e, adiante, o prédio da Estação da Great Western. Pelo Nascente, mais expressivo, o Teatro Carlos Gomes; o Grupo Escolar Augusto Severo (ex-Faculdade de Direito); e a ex-Escola Doméstica de Natal, atual Instituto Nacional de Seguridade Social.
 No dia 12 de maio, todos os anos, dava-se a comemoração da data do “Pai da Aviação”. As alunas da Escola Augusto Severo, engalanadas, farda branca de saia pregueada, de mãos dadas, circundavam a estátua de Augusto Severo. As moças sob os acordes da Banda de Música da Aeronáutica, cantavam o hino: “Foi a 12 de maio na França/Era puro e sereno o azul do céu/Flutuava o Pax nas asas da bonança/A glória conduzindo o seu troféu.”// (estribilho) “Auri verde pavilhão/E a popa do balão”.//”Houve um raio de luz pelo horizonte/Um soluço de dor nos ares paira/A águia rolou dos píncaros do monte// “Auri verde pavilhão...”. Enquanto isso, um avião sobrevoava e lançava a coroa de flores sobre a estátua do homenageado.
Antes das demais edificações, deu-se a construção original do “Teatro Carlos Gomes”, obra do governo de Ferreira Chaves, sob os cuidados do engenheiro  José de Parrêdo, iniciado em 1898 e concluído no ano de 1902, ou 1904. Com a reforma realizada durante o governo de Alberto Maranhão e obra do engenheiro Herculano Ramos, ganhou a concepção atual e foi concluída em 1912. Ocupa a área de 80 metros de fundos, por 12 metros de largura. De poltronas, frisas, camarotes e galerias, totalizava uma capacidade de 1.000 expectadores. Sua disposição interna é de uma lira e caixa de som à italiana. Nos anos de 1958 e 1959, abrigou a sede da Câmara Municipal de Natal. Passou a se chamar “Teatro Alberto Maranhão”.  
A solenidade de reinauguração ocorreu precisamente às 15,00 horas, do dia 16 de junho de 1912, no salão de gala do Teatro, com direito à visitação às dependências do sodalício. O sol incidia na frente do prédio, refletindo no salão que abrigava os convidados.
Era regra para os homens o traje adequado em tais solenidades: jaquetão; camisa de linho, com colarinho alto e punhos fechados; gravata borboleta; sapatos de verniz de bico fino; meias brancas de seda; lenço na lapela; chapéu de feltro; “pince-nez”; relógio de bolso com corrente e bengala. As mulheres portavam vestidos longos de seda francesa, combinação, chapéu ou solidéu, luvas, cachecol, mantilha, corpete, sapatos fechados e o indispensável leque. A preocupação dos presentes era com a demora do ato, tantas eram as autoridades presentes e os comuns mortais silentes, sob o mais causticante calor.
O Dr. Herculano Ramos retirou do paletó um calhamaço de papel, com os rabiscos do discurso. O engenheiro, que não era um discursador, pressentiu a agonia dos presentes. Aprumou os óculos sobre o nariz e falou: “Exmo. Sr. Governador do Estado. Vossa Excelência entregou-me um pardieiro e eu agora lhe restituo um teatro.”. Dito isto, recolheu a papelada e deu por encerado o ato.
Nos anos iniciais do século XX, segundo Anchieta Fernandes (1992), o Teatro Carlos Gomes foi palco de experiências cinematográficas, inclusive nele funcionando a sede do “Cinema Natal”. Dentre os cartazes expostos na frente do Teatro, o filme divulgado era “Two Arabian in Nigth”. Na área cênica, abrigou o “Gymnásio Dramático” que congregava os sócios amadores, os da ajuda financeira e os que elaboravam a parte literária. Participavam do “Gymnasio” Sebastião Fernandes, Luiz Potiguar, José Pinto, Ivo Filho, Ezequiel Wanderley, Deolindo Lima, Virgílio Trindade, Jorge Fernandes, Sandoval Wanderley, Jaime Wanderley, Carlos Siqueira, João Estevam (“Estevinho”), José Calafange, José Calazans, e outros. Apresentavam-se no Teatro óperas – A Dama das Camélias -, revistas, vaudevilles, comédias e dramas. Jorge Amado registrou que teve a peça dramática “Renúncia” encenada em Natal (em dúvida, se no ano de 1914), provavelmente pelo “Gymnásio Dramático”. Coelho Neto, em passagem por Natal, assistiu a peça “O Dote”, com participação de Alvaro Costa, Córa Costa e Lívia Maggioli.
Dentre os diretores, até a década de 1960, o teatrólogo Meira Pires, por sua dedicação, muito contribuiu para a arte cênica do Estado. Escreveu a “História do Teatro Alberto Maranhão”. Com a ida de Meira Pires para o INACEM, no Rio de Janeiro, a direção foi exercida por Dorian Gray e depois por Iapery Araújo. Em 1970, faleceu “Coquinho”, o ultimo construtor do Teatro quando de sua reconstrução, em 1912.


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