02/11/2013


Casa do mestre: Casa de Câmara Cascudo, o sabido das coisas

TRUBUNA DO NORTE - Publicação: 02 de Novembro de 2013 às 00:00

Gustavo Sobral 
Ilustração: Arthur Seabra

Um canto de muro esconde muito coisa que só ele revela. Um canto de muro habitam insetos, passeiam pássaros, andam formigas, caem goteiras, crescem ervas daninhas, passeiam e sonham meninos. Um canto de muro feito assim vira literatura quando nas mãos de um Cascudo amigo que pela janela do seu sobrado rosa claro coleciona os fins de tarde do rio Potengi. Na av. com nome do dono, Câmara Cascudo, que é mesmo a subida da Ribeira para Cidade Alta, Natal/RN, ou vice-versa. Na porta de entrada, a segurança necessária: um cangaceiro pintado pelo artista completo de todos, e amigo, Dorian Gray Caldas. Transposta a segurança, a escadaria leva ao alpendre que ali toma nome de vento e sossego de um chão desenhado de mosaico. A sala de entrada com retratos do zepelim que sobrevoou a cidade dos anos 1900 e jogou flores ao aeronauta Augusto Severo é também de outros retratos, Villa Lobos oferece uma testa larga para um Cascudo amigo. E depois, na casa, as paredes que se pintam com as assinaturas de quem entrou porta adentro daquela casa e viu e viveu o mestre quando conversava no balanço da cadeira e baforava a lentidão no charuto.
Arthur Seabra

A máquina de escrever descansa mais de cento e sessenta livros e plaquetes escritos e publicados sobre tudo, história, folclore, alimentação, cultura, e tanto de tudo que teve de virar livro trabalho de toda hora e de todo tempo para escrever sobre todas as coisas numa disciplina da madrugada de leitura e redação que o aviso na porta advertia: o mestre Cascudo só atende à tarde, que pela manhã dorme e à noite escreve.

O endereço ficou marcado para que não se perdesse ganhando a rua seu nome, então a casa antiga ficou pertencendo à rua do dono, Avenida Câmara Cascudo, 377. Dizem que sua forma é chalé, a que gosto de época não se sabe, mas suas obras findaram em 1900, até ser comprada pelo sogro de Cascudo em 1910, e depois por ele em 1947. Os pedacinhos da casa estão nas páginas do seu livro, porque foi naquele chão e embaixo daquele teto de telhas vãs que livros, e mais livros, e muita história com sabor de quem conta, sairam por ai pelas páginas provocando o encanto da descoberta de ler o que Cascudo conta.

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