29/01/2014

A COLUNA PRESTES NO RIO GRANDE DO NORTE - VIII - TOMISLAV R; FEMINIC K



A Coluna Prestes no Rio Grande do Norte - VIII- Tomislav R. Femenick – Membro da diretoria do Instituto Histórico e Geográfico do RN

 O relato do ataque da Coluna Prestes à cidade de São Miguel contado pelo senhor José Guedes – e publicado pelo historiador Luiz Gonzaga Cortez – embora importante, tem várias falhas, contradições e evidenciam alguns preconceitos. Alguns exemplos eu já publiquei em artigo anterior e hoje constato mais alguns. O depoimento procura fazer ver que não houve “nenhum heroísmo da população de São Miguel/RN nos enfrentamentos da Coluna Prestes, em fevereiro de 1926”, porém muda de atitude quando os revoltosos fogem da luta. Essa fuga deu-se quando os elementos da Coluna tomaram conhecimento de “que no Riacho Fundo, a uma légua de São Miguel, estava havendo um grande tiroteio com a polícia”. Então os oficiais da Coluna abandonaram a cidade e “mandaram levantar acampamento e todos rumaram para a estrada”. Pelo depoimento de José Guedes, os civis que estavam defendendo sua cidade e suas famílias eram covardes, mas os militares muito bem armados e com grande experiência de combate apenas queria evitar a perda de seus homens. Outro aspecto do depoimento do senhor José Guedes demonstra o preconceito do próprio Luís Carlos Prestes contra os nordestinos. O texto atribui as seguintes palavras ao líder da Coluna: “essa mundiça não merece a mínima confiança; os sulistas são bons, mas trazemos um pessoal do Maranhão e do Piauí que ninguém tolera”. Rostand Medeiros (2010) nós diz que, após saírem de São Miguel, a Coluna Prestes “seguiu em direção aos atuais territórios dos municípios potiguares de Venha Ver e Luís Gomes, onde o trajeto utilizado aparentemente foi através dos sítios Bananeira, Formoso, Bartolomeu e depois Venha Ver, na época uma fazendola com algumas casas na beira de um açude. Nesta cidade, [...] enquanto o grosso da tropa seguia adiante, alguns membros da Coluna acamparam próximos ao açude, aonde chegaram a permanecer alguns poucos dias na região, inclusive com suas mulheres. Estas utilizavam lenços e panos na cabeça de cor vermelha, mostrando orgulhosamente que faziam parte do grupo rebelado. [...] Após saírem deste lugarejo, a Coluna de Revoltosos seguiu em direção à propriedade Cacos (ou Cactos), e após passarem pela Ladeira dos Miuns, estiveram na região dos sítios Tigre, Imbé, São Bernardo, Feira do Pau e na pequena área urbana da cidade de Luís Gomes”. No dia cinco de fevereiro daquele ano, a Coluna Prestes invadiu a vila de Luís Gomes, que estava praticamente abandonada pelos seus moradores. Segundo narra o escritor Itamar de Souza (1989): “O povoado preparara-se para resistir. Mas, quando os habitantes da vila receberam o aviso de que os rebeldes estavam no Imbé, a debandada foi geral. Repetiram-se as mesmas cenas consignadas na invasão da vila de São Miguel. Primeiro, dominaram a estação telegráfica, em cujas instalações almoçaram alguns Oficiais do Estado Maior. Depois que tentaram notícias sobre a situação das forças legalistas em Pau dos Ferros, eles quebraram o aparelho de transmissão. Enquanto isto, os rebeldes saqueavam e arrombavam casas comerciais como verdadeiros vândalos. De Luís Gomes, eles se dirigiram para o território da Paraíba”. A análise que Rostand Medeiros faz desse evento é taxativa: “Em Luís Gomes se repetiram as ‘ações revolucionárias’, com uma sequência de saques de casa residências e comerciais. Foram provocados incêndios no cartório e na agência dos correios. Já no dia 6 de fevereiro, os revoltosos deixaram Luis Gomes e o Rio Grande do Norte, adentrando na Paraíba”. Uma última palavra deve ser dada em relação ao importante texto de memória do senhor José Guedes do Rego sobre a passagem da Coluna Prestes por São Miguel. Todos os autores de memórias as fazem no intuito de contribuir para a afirmação da verdade. Porém “a formação cultural do indivíduo não lhe permite uma isenção de valores, ao apreciar o fato. Então, o que vai alterar a consecução da narrativa, é o envolvimento maior ou menor do autor com um fato [...]. O autor se revela através de seu texto, seja ele histórico ou não. Fazendo uma análise do passado, ele atinge o presente. Quer confirmando a versão oficial quer apresentando abordagens diferentes, o autor sempre está buscando uma razão para a sua vida atual. Talvez, abandonando a postura de aceitar as coisas apenas como elas nos são passadas, o homem possa, através da volta ao passado, compreender a si mesmo” (Souza, 2005)

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