11/01/2015

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D U Q U E   D E   C A X I A S,  O   S E N T I M E N T A L

Gileno Guanabara, do IHGRN

            D. João VI de regresso para Portugal, D. Pedro que ficara governando o Brasil, escreveu ao pai, através de carta datada do ano de 1821, dando conta da prisão de um cabo do regimento de cavalaria, efetuada pelo visconde do Rio Secco, momento em que o detido o convidava a participar de uma conspiração. O fato já fora informado em carta do dia anterior dirigida ao mesmo destinatário. Era tempo das conspirações.

Convocado para o ministério, nos anos que seguiram, José Bonifácio tomou a iniciativa. Nomeou juízes especiais e compôs o tribunal de exceção, para julgamento dos conspiradores, que não eram poucos, expediu leis marciais e ordens para maior vigilância e conter a onda de revoltas populares promovidas por anarquistas, republicanos e carbonários, inimigos do Brasil. Numa delas, dirigida ao Intendente-geral da Polícia, atribuía a Feijó a condição de anarquista: Sua Majestade, o Imperador, confiando muito no zêlo, patriotismo e constante adesão à causa do Brasil que tem manifestado o capitão-mor da vila de Itu, ...e no amor e fidelidade inabalável que consagra à sua Augusta Pessoa: Manda que êle, por todos os meios ocultos que estiverem ao seu alcance, procure conservar debaixo da maior vigilância ao padre Diogo Antônio Feijó...aos sentimentos anárquicos e sediciosos, que é revestido, une a mais refinada dissimulação, da qual sem dúvida resultará grande perigo à tranquilidade e união dos povos daquela fidelíssima comarca.... Rio de Janeiro, 11 de junho de 1823.

De outro lado, ao tomar conhecimento dos termos ressentidos, tais os termos (e em resposta) da carta do padre Diogo Feijó ao governador da Província, barão de Monte Alegre (in Caxias em São Paulo, Vilhena de Morais -1943), - Os paulistas vão tomando a natureza de cães, que gostam de aumentar a aflição aos aflitos... Eu brevemente me retirarei para meu sítio, evitando assim de excitar com a minha presença o ódio dessas feras –, o barão de Caxias irônico, em carta a José Clemente Pereira, Ministro da Guerra (julho/1842), referindo-se à Revolução Paulista, reproduzida também por Vilhena Morais: O senador Feijó se acha nesta Capital guardado por um oficial e nem por isso está mal comigo, tanto que neste momento acaba de sair de minha casa e dizer-me que não quer ser paulista. E prosseguiu, em seu noticioso dirigido ao governador: -...Afirmou o senador Feijó que projeta na Assembléia Provincial declarar que não é mais paulista e nem representante de miseráveis canalhas. E, por fim, -...Pelos disparates que diz, concluo que sofre de desarranjo mental... (Museu Paulista, Rev. n. 06; julho/1842).

Com embates parlamentares acirrados que se prolongaram pelos anos de 1842 e 1843, a exoneração dos presidentes liberais das Província atiçou a agitação, ainda mais com a eleição de Martim Francisco a presidente da Câmara. Veio a dissolução da Câmara e, com efeito, no mês de maio, eclodiu a revolução liberal em São Paulo. Já em junho, em Barbacena, iniciou-se a Revolução Mineira, eleito José Feliciano, o futuro barão de Cocais, presidente da Província revoltosa. Com a adesão diversos líderes, deu-se a rendição de São João d’El Rey, Queluz e o movimento já apontava para Ouro Preto, capital da Província, onde o legalista Bernardo Jacyntho da Veiga resistia.

O padre Feijó liderara a Revolução Paulista de 1842. Sua mensagem ao povo, para que aderisse e tomasse o poder pelas armas, não foi entendida nem como sendo contra o governo provincial, nem contra o governo Imperial. O povo não lhe deu crédito. Daí sua amargura para com os paulistas. Emblemático foi o momento da prisão do Padre Diogo Feijó, em São Paulo, pra onde Caxias fora enviado, a fim de debelar a revolta. Depois de estabelecer seu quartel-general, dirigiu-se acompanhado apenas do ajudante de ordens à Rua das Flores, onde encontrou o padre Feijó imobilizado de uma perna.

 Após os cumprimentos de praxe, disse Caxias: - ...Só o dever de soldado me impõe a dolorosa incumbência de vir prender o senador Feijó, um dos chefes do movimento revoltoso. Convido-o, pois, a acompanhar-me. Feijó prontamente respondeu: - Sr. General, estou às suas ordens. E prosseguiu para a oitiva de Caxias: - O sr. é moço, aprenda no que está vendo, o que são as vicissitudes do mundo. Naquele tempo eu dava acessos ao sr. Lima e Silva, hoje vem êle prender o velho Feijó, já moribundo.  Caxias lhe retrucou de imediato: - Sou soldado e cumpro ordens do Govêrno, ordens iguais às que me deu o sr. Feijó quando era Ministro da Justiça: varrer os revoltosos a ferro e fogo e prender os cabeças da revolta. Existem versões nem tanto diferenciadas para o relato final daquele episódio, como a registrada por Américo Brasiliense (Lições de História Pátria, 1877). Prevalece, afinal, a tese de que Caxias tratou com benignidade e respeito ao Senador do Império, mantendo-o em prisão domiciliar.

Já nas Minas Gerais, diante do fato de o líder, José Feliciano, sem comunicar aos parceiros de revolta, ter proposto uma trégua ao barão de Caxias, chefe das tropas legalistas enviado às Minas Gerais, o desânimo dominou os revoltosos. Por fim, o líder da conspiração fugiu, abandonando as tropas. Era agosto de 1842. Luiz Alves de Lima e Silva, que vencera a revolta liberal de São Paulo, avançou sobre Santa Luzia, deu voz de prisão a Theophilo Ottoni e pôs fim à acéfala revolta liberal mineira. Ao passar por Ouro Preto, de volta para o Rio de Janeiro, convidado para um “te-deum” pela vitória, Caxias refutou: O officio do clero é rezar pelos mortos. Não é congratular-se pelos resultados de uma luta fraticida que devia entristecer os corações brasileiros.

No outono da vida, era março de 1874, um duque de Caxias alquebrado, revelou o seu lado sentimental. Em carta a sua amiga e comadre, D. Maria José de Siqueira: Perdi o maior bem que neste mundo gozava: a minha virtuosa companheira de 41 anos. É que falecera Ana Luíza Carneiro Viana, a esposa, com quem se casou em 6 de janeiro de 1833. Só em 1888, o jornal “Gazeta de Notícias” noticiou o relato feito pelo padre que lhe dera a extrema unção: o desespero e o choro angustioso do marechal guerreiro... No início da carta, o lamento da perda: -Quê me vale o mundo sem ela? ...A seguir, Caxias fez referência aos brincos de pedras preciosas que a falecida destinara à prima e confidente: -... lhe peço que os aceite como um presente da sua íntima amiga, que Deus levou para o Céu, deixando-me só neste Mundo, para chorá-la. Não os vou entregar pessoalmente como devia, porque sou um cobarde. Seu compadre que muito a estima. Duque de Caxias, abril de 1874 (Do arquivo do juiz, Dr. Otávio Tarquino de Souza, RJ).    

 

           

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