13/02/2015

CARNAVAL DO PASSADO E FOLIÕES IMORTAIS

 
Severino Galvão, (ao centro) foi Rei Momo, muitas vezes, à revelia da prefeitura.

Irreverência, seu nome é Severino Galvão. Numa época marcada por grandes carnavais, o Rei Momo Severino de Oliveira Galvão (1914 – 1994) reinou à margem do carnaval oficial pintando o sete. Foram doze anos de mandato continuado (1968 a 1980), as mais das vezes como Rei Momo alternativo. Natural de Pedro Velho, Severino Galvão foi um pouco de tudo na vida: militar, comerciante, publicitário, político e, principalmente, Rei Momo. Com as marcas indeléveis da irreverência e do bom humor, qualidades inatas que o acompanharam na saúde e na doença, o folião tinha o hábito de organizar batalhas de carnaval em bairros da Natal das primeiras décadas do século XX. Desta época para a majestade foi um pulo. Também fundou o Clube Rex, na capital, para dar vazão aos arroubos carnavalescos. Rei Momo de protesto e dono de rara capacidade inventiva, Severino Galvão se auto-intitulava Super-Rei, à revelia da Prefeitura, responsável pela eleição, e do Rei Momo oficialmente eleito, constituindo ministério particular e nomeando personalidades locais para fazerem parte do gabinete. Juntamente com os auxiliares, elaborava programação para ser cumprida integralmente durante o reinado de Momo. Pela via biônica, em 1980 Severino Galvão nomeou Luís de Barros como primeiro-ministro; senador Jessé Freire, presidente do Senado Imperial; e João Medeiros Filho, chefe da Casa Civil, para ocupar posto no alto escalão. A lista de nomeações era imensa. Episódios hilários envolvendo o Rei Momo foram muitos. Um deles dá conta que, convidado para abrir o carnaval de Mossoró com os amigos João Fabrício e José Matias de Araújo (Zé Quitandinha), Severino Galvão foi detido pela polícia no aeroporto acusado de ser um impostor. O trote foi protagonizado pelos amigos Luís de Barros e Roberto Freire, que telefonaram de Natal para Mossoró e passaram informações falsas sobre ele para as autoridades policiais daquela cidade. A confusão foi grande. Um dos seis filhos do soberano com dona Elvira Galvão, o arquiteto João Galvão, revela que, mesmo como Rei Momo paralelo, Severino Galvão tinha acesso ao palanque oficial do carnaval e ingresso livre nos grandes bailes clubísticos, quando costumava borrifar perfume Contouré nos foliões, usando para isso bomba de aspersão. Outra esquisitice notada era o hábito de dar cochilos intermitentes no palanque oficial, em meio ao barulho gerado pela passagem das escolas de samba e tribos de índios. Exercendo toda a sua criatividade, Severino Galvão fez chegar à imprensa uma suposta ameaça de seqüestro durante o carnaval de 1979, informando que estava reforçando o serviço de segurança. O provável seqüestrador seria o coordenador dos Negócios do seu Reinado, vereador Érico Hackradt, amigo pessoal do Rei Momo. A notícia saiu no Diário de Natal, edição de 11 de fevereiro de 1979. Antes de falecer aos 79 anos, 50 dos quais dedicados ao carnaval, Severino Galvão deixou a autobiografia “A minha vida em versos”, que está sendo revisada e acrescida de documentos e rico material fotográfico pelos filhos João e Erinalda Galvão. A intenção é publicar os originais em livro. “O espírito dele era alegre e engraçado”, lembra a filha Erinalda Galvão. (PJD) Severino Galvão, Severino Galvão, (ao centro) foi Rei Momo, muitas vezes, à revelia da prefeitura a irreverência Acervo da família..
A República - Suplemento - Fev. 2005
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