05/06/2015


   
Acla Pedro Simões Neto
5 de junho às 05:52
 
JOSÉ INÁCIO FERNANDES BARROS,
O PRIMEIRO JUIZ DE CEARÁ-MIRIM

A fonte mais confiável e a mais prazerosa para quem quer relatar fatos históricos do nosso estado, é, sem sombra de dúvida o gênio Luis da Câmara Cascudo. Pela erudição e pela verve, pelo modo simples, elegante e agradável com que conduz as suas narrativas. Apenas ele e somente ele para apresentar o primeiro juiz da então recém-criada Comarca de Ceará-Mirim, o doutor José Inácio Fernandes Barros.
O ilustre magistrado notabilizou-se, em relação a Ceará-Mirim e suas adjacências, pelos seguintes fatos: implantou a comarca recém-estabelecida; construiu um dos mais belos prédios da nossa cidade para sua residência, onde hoje se localiza a secretaria de educação do município; casou-se com uma filha do Barão do Ceara-Mirim; mobiliou, com seus próprios recursos, com equipamentos importados dos Estados Unidos, a primeira escola pública local, construída pelo Barão; inaugurou um modelo de elegância no trato com as pessoas, no bem vestir e na arte da recepção comparável à aristocracia francesa; finalmente, é responsável pela denominação do atual município de Pureza, onde possuía um sítio para repouso.
Transcreve-se a “Acta Diurna” de Cascudo (03/03/1940) sobre o nosso juiz:
“Nasceu em São Gonçalo, a 25 de abril de 1844. Bacharel em 1868. Morreu com 63 anos, no Ceará-Mirim, a 17 de outubro de 1907 na casa sobradada, senhorial e bonita, olhando o verde vale ondulante de canaviais. Figura rara de elegância física, aprumo protocolar, graça fidalga, apuro indumentário. Os hábitos eram de descanso, de intimidade niveladora, de pilhéria com sal grosso, de roupas sumárias, à vontade, á custa do clima, dos costumes, da preguiça. Fernandes Barros foi uma exceção. Ninguém o viu em mangas de camisa, de chinelos, com o chambre ritualista que dava toda importância social. Às oito horas da manhã, em Natal, Ceará-Mirim, Aracaju ou Rio de Janeiro, estava barbeado, esticado, unhas brunidas, perfumado, com uma toilette de receber um Cardeal ou visitar o Imperador. Esse cuidado no vestuário acompanhava todos os seus gestos. Seu papel de carta é uma delícia visual, marfinado, liso, com monograma em relevo azul. A tinta é negra escura, própria indelével. O envelope forrado de seda. Tudo quanto lhe saiu das mãos era assim.
Juiz Municipal em natal, Chefe de Polícia em 1874, Juiz de Direito em Jardim do Seridó, de 75 a 77, instalou a Comarca do Ceará-Mirim, de agosto de 1877 a 1884, quando foi removido para Maruim, em Sergipe. Chefe de Polícia em Sergipe em 1885.
Voltou ao Ceará-Mirim, reassumindo o Juizado em março de 1888.
Aposentou-se em 1890.
Seu casamento com D. Ana Teixeira da Silva Varela, a 8 de abril de 1872, foi a mais linda festa social da época. O sogro, Manuel Varela do Nascimento, depois Barão do Ceará-Mirim, doou um prédio de cinco contos para casa de ensino. Fernandes Barros era Juiz Municipal do termo. Ofereceu o mobiliário escolar. Mandou-o vir dos Estados Unidos. Era o mais cômodo, moderno e perfeito de todo o norte do Brasil. Nos Estados Unidos comprara o melhor. Nos Estados Unidos comprara o melhor. Rocha Pombo, registrando o feito, escreveu: ‘E efetivamente o fez, tendo até o capricho de fazer vir dos Estados Unidos todo o material de instalação, o que havia de mais perfeito lá no pais clássico do ensino público.’
Era, instintivamente, aristocrático. Suas saudações pareciam copiadas do Duque de Morny. Um encanto seus trajes escuros, feitos em Londres, o sapato inglês, o colarinho resplandecente, a gravata negra, duma seda espessa e macia, os plastronos ornamentais, avivados pela brancura da pérola oriental. No meio dos homens vestidos pelos alfaiates da terra, pelos curiosos do interior ou pelos artistas de Recife, era um crisântemo numa moita de mangericão.
Ninguém mais acessível, acolhedor e simples que esse beau Brummel desgarrado no simplório Rio Grande do Norte. Culto e vivamente curioso, lia as novidades, conversando com graça e fazendo rir sem estrépito. Para ele, com viagens difíceis, iam jornais e revistas de longe. Fernandes Barros, até prova em contrário, o único ser humano que fazia, em toda vastidão da Província e depois Estado, toilette para jantar. Jantava de escuro, medido, meticuloso, manejando os talheres diversos, bebendo em vários copos de cristal, servido em sua baixela de porcelana de Limoges e prataria do Porto.
A barba, longa e fina, era tratada como a de um grão-duque, Suas viagens longínquas traziam sempre surpresas. E pensar que Fernandes Barros foi político, elemento do Partido Conservador, vice-presidente do Estado, administrando o Rio Grande do Norte por vinte e três dias, no período mais convulso, mais aceso, mais tremendo da política local. À primeira imposição dos amigos, ignorantes de sua sensibilidade, renunciou o cargo. Quando Pedro Velho desmoronou o castelo da oposição cimentada no Marechal Deodoro, já Fernandes Barros, alheio, superior, cortez como um Rohan, estava a mil léguas das campanhas do formigueiro. Ninguém o incomodou. Viveu como sonhara, com distinção e nobreza.
Passava o verão junto às águas idílicas da nascente do rio Maxaranguape, fonte redonda como uma taça de Murano rodeada pelos flabelos dos altos pau-ferros. O nome era Pau Ferro, vinha da data do Pau Ferro, secularmente. Fernandes Barros mudou-o para Pureza apelido perfumado e claro, tão justo, tão lógico, tão oportuno, que toda a gente o apoiou. A seu pedido, Amintas Barros, pelo decreto 110, de 23 de maio de 1891, criava um distrito de paz na povoação de Pureza. Morreu, com uma moléstia atroz. Nunca o sofrimento horrendo venceu sua elegância. Nenhuma concessão ao tumulto dos gemidos e dos gestos. Teve, como os Romanos, o pudor na morte e a distinção na agonia.”

Ceiça Cruz, Ciro José Tavares, Clea Bezerra de Mello, Darquinha Arruda, Emmanuelle Cavalcanti, Gerinaldo Moura da Silva, Gibson Machado, Gracinha Barbalho B. Teixeira, Gustavo Sobral, Helo Brandao, Janilson Dias de Oliveira, Jeanne Araujo, José de Anchieta, Jose Eduardo Vilar Cunha, Joventina Simões Oliveira, Lêda Marinho, Lucia Helena Pereira, Leonor Soares, Múcio Vicente, Ormuz Barbalho Simonetti, Ricardo M. Sobral Marilda Barreto Furtado, Sayonara Montenegro

Bianor Junior, Carlos D Miranda Gomes, Ceicinha Câmara Taquelim, Eduardo Lago, Eduardo Gosson, Jailza Lopes Ricardo Simões, Jansen Leiros, Maria Alice Brandao, Olimpio Maciel, Roberto Lima de Souza, Roberto José Maques Pereira

Franklin Marinho Jr., Renato Martins, Waldeck A. Moura Moura, Eduardo Paiva, Celma Brasil, ED Santiago, Graça Tinôco, Julio Lima Jucali, Nilde Oliver, Pedro Mesquita Filho, Marinez Lucena de Medeiros, Múcio Câmara, Régia Silveira, Sebastião Cruz, Neto Coutinho

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