27/06/2016


HOMENAGEM A EXPEDITO BOLÃO

Valério Mesquita*

Mês passado faleceu o ex-vereador Expedito Mariano de Azevedo, o “Expedito Bolão”, aos 96 anos. Uma das figura essenciais do folclore político de Mossoró e do Rio Grande do Norte. Tive a alegria de narrar dezenas de causos do seu humor e de seus repentes. Os sinceros pêsames à toda família.
01) Certa vez, chegando à rodoviária da Ribeira foi a uma lanchonete. “Traga aí uma água mineral. Quero a mais pura e mais gelada que tiver!”. O rapaz perguntou: “O senhor quer com ou sem gás?”. Expedito corrigiu: “Com gás? Lá em Mossoró, água com gás a gente dá banho nos cavalos. Lá tomamos água minerálica, termal, cloroterápica, como diz o doutor Dix-Huit.” O balconista sem entender o fraseado, disponibilizou seis garrafinhas: “Por favor, doutor escolha aí uma do seu agrado”.
02) Certa vez, em Natal, entrou no elevador do INSS ecom ele, um jovem bem vestido acompanhado de duas moças. Expedito avisa ao ascensorista: “Vou para o oito!”. O rapaz replicou: “É o oitavo andar?”. Expedito olhou de lado e comentou: “Lá em Mossoró, tem dona Oitava Rosado, aqui é oitavo. Engraçado né?”. Ninguém riu. Em dado momento, o irreverente vereador dá “uma rasgada de mescla”, (o famoso flato trovão). O granfino, com a mão no nariz, criticou: “O senhor fazer isso na frente da minha noiva?”. Bolão disparou: “Desculpe, eu não sabia que era a vez dela...”.
03) Expedito Bolão, costumava participar de grupos de amigos para um aperitivo. Não demorou muito, saiu-se com essa: “Ontem eu descobri que sou um deus”. “Lá vem você, com essas besteiras”, comentou alguém. “Verdade!”, retrucou Bolão. “Estava acordando quando ouvi a minha mulher dizer, enquanto fazia o sinal da cruz: Com Deus me deito, com Deus me levanto; logo, como só tava eu ali...”.
04) Bolão disparou certa vez nas urnas de Mossoró. Liliam – candidata que não chegou lá – estava p. da vida. Não aceitava saber que ele havia recebido quatro vezes mais sufrágios do que ela. Um domingo, no mercado, os dois se encontraram. Liliam não se conteve e mandou impropérios contra o vereador. “Expedito”, disse ela, “o povo parece que é cego. Votar em você... baixinho, feio, velho... você era pra estar morto e enterrado.” Expedito, enfrentando a cólera da mulher, justificou anatomicamente: “E é porque eu só tenho um buraco... avalie se eu tivesse dois!.”
05) O restaurante “Quixabeirinha” era parada obrigatória para quem viajava no trecho Natal/Mossoró. Certa vez, o expresso da Nordeste parou no estabelecimento e todos desceram com propósitos diversos. Expedito Bolão, sentando-se no salão, pediu a garçonete: “Por favor, traga-me cuscuz e três ovos mexidos”. A moça anotou o pedido e saiu rumo à copa. Um pouco adiante parou e perguntou a Expedito: “O senhor usa sal nos ovos?”. O irreverente Bolão respondeu: “Não. Eu uso talco Rossi...”.
06) A praça Rodolfo Fernandes, em Mossoró, todas as noites, a vida alheia, era o prato preferido de uma dúzia. Certa vez, Bolão abordou assunto de maridos traídos. Ele logo comentou: “Minha opinião é que só existem duas espécies de cornos no mundo. Primeiro: aquele que é, e sabe; segundo: aquele que é, mas ainda não sabe!”. Dita a sentença, Expedito olha para o vereador Zadock, e interrogou: “O amigo concorda comigo? Em qual das duas classes você está enquadrado?”. Foi um minuto de silêncio e uma gargalhada geral pelo suspense.
07) A campanha parecia fácil em Mossoró, mas quase se complicava. O professor Vingt-Un, que fazia questão de dizer que não era médico, garimpava votos na zona rural, com o vereador Expedito Bolão. Estavam na comunidade Riacho Grande, ouvindo as reivindicações populares. Na área rural, ainda hoje, muita gente chama bronquite asmática de “puxado” (dificuldade de respirar). Uma idosa que sofria desse problema parou Expedito e suplicou: “Homem de Deus! Me dê um remédio... O que eu faço pra deixar de “puxar”?”. Expedito com ar professoral, respondeu: “Bote na frente e tanja”. “Ô cabra felá da...”, explodiu a velha pedindo desculpas a Vingt-Un.

(*) Escritor

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