30/10/2013

Isolina Alves Avelino Waldvogel e seus irmãos

João Felipe da Trindade (jfhipotenusa@gmail.com)
Professor da UFRN, membro do IHGRN e do INRG
 
Foi no livro “Angicos”, de Aluízio Alves, que tomei conhecimento dos filhos do jornalista Pedro Avelino e D. Maria das Neves. Eram eles Georgino Avelino, Vicente Avelino, Maria Albertina Leite, Isolina Avelino e Camilo Avelino.

Nos livros de batismo de Angicos, inicialmente, só encontrei o batismo de uma filha de Pedro Avelino. Estava lá: aos quatro de janeiro de 1888 batizei, solenemente, a Maria, natural desta Freguesia, sendo padrinhos José Francisco Alves de Souza e sua mulher Maria Ignácia Alves da Silva (de Souza), nascida a 4 de dezembro de 1887, e filha legítima de Pedro Celestino da Costa Avelino e Maria das Neves Alves Avelino, livres, brasileiros, moradores nesta Freguesia, do que mandei fazer este assento, em que assino. O vigário Felis Alves de Sousa. Os padrinhos acima eram os avós maternos de Maria Albertina, que casou, em Natal, conforme registro abaixo.

Aos nove ou dez (como está escrito) de novembro de mil novecentos e sete, presentes as testemunhas Jayme Lopes do Canto e Dr. Affonso Barata, depois das canônicas habilitações, assistiu, de minha licença, o Reverendo Cônego Irineu Joffily ao recebimento matrimonial dos nubentes Dr. José Rodrigues Leite Junior e Maria Albertina Alves Avelino; ele filho legítimo de José Rodrigues Leite e Júlia Esberard Leite; e ela filha legítima de Pedro Celestino da Costa Avelino e Maria das Neves Alves Avelino. Do que mandei fazer e assino. O vigário Moyses Ferreira do Nascimento.

Dona Maria Albertina foi aluna e professora do Colégio Americano (na Av. Rio Branco, fundado em 1897, presbiteriano). Faleceu em Niterói, onde morou por muitos anos, em 1948. Seu marido, conhecido como Dr. Leite Junior, era engenheiro e foi funcionário da Diretoria de Obras da Prefeitura de Niterói.
Não encontrei, nessa busca inicial, o batismo de José Georgino Alves de Sousa Avelino, pois, todas as informações que tinha diziam que ele nasceu em 1888. Mas como já dito, em outro artigo deste jornal, encontrei, depois, o registro, onde descobri que o senador tinha nascido, na verdade, em 31 de julho de 1886, também em Angicos, sendo, portanto, o primeiro filho do casal Pedro Avelino e Maria das Neves.

Percorrendo os livros de batismos aqui da Freguesia de Nossa Senhora da Apresentação, onde o jornalista Pedro Avelino viveu um tempo, encontrei o batismo de mais três de seus filhos: Isolina, Pedro e Camilo.
Aos dois de fevereiro de mil oitocentos e noventa e três, batizou solenemente, na Igreja Bom Jesus das Dores, o Padre Constâncio, Isolina, nascida a dezesseis de maio de mil novecentos e dois, filha legítima de Pedro Avelino, e Maria das Neves; foram padrinhos José da Penha Alves de Sousa (tio materno da batizada) e Maria Clara Martins dos Santos, na procuração que apresentaram Francisco de Moura Cabral e Cândida Gondim Cabral. Do que faço este termo e assino. O pároco João Maria Cavalcanti de Brito.

Na internet, encontro informações do Centro de Pesquisas Ellen White, das quais extraí: que ela, Isolina, era poetisa, tradutora (espanhol, inglês, francês e italiano), além de redatora da Casa Publicadora Brasileira. Diz mais que casou em 3 de abril de 1923, no Rio de Janeiro, com Luiz Waldvogel, obreiro da CPB, em Santo André, São Paulo, e que dessa união nasceu Heloisa. Faleceu aos 6 de julho de 1980, com 88 anos de idade, em São Paulo. Isolina foi rebatizada, na religião adventista, no Rio de Janeiro, no ano de 1915.

Outro filho do jornalista Pedro Avelino, que nasceu aqui em Natal, foi Pedro: Aos vinte e um de novembro de mil novecentos, na capela da Fábrica de Tecidos, nesta cidade, batizei solenemente Pedro, nascido a vinte oito de agosto do corrente ano, filho legítimo de Pedro Avelino e D. Maria das Neves Alves Avelino; padrinhos Juvino César Paes Barreto e D. Ignez Augusta Paes Barreto. Do que faço e assino este termo. Pároco João Maria Cavalcanti de Brito. Não encontrei mais informações sobre Pedro. Os padrinhos eram donos da fábrica de tecidos, onde hoje funciona o Salesiano.

Camilo, filho de Pedro Avelino e Maria das Neves Avelino, nasceu aos dez de março de mil novecentos e sete, e foi solenemente batizado aos dezenove de maio do dito ano; padrinhos Augusto Leite e Maria Leite. Do que mandei fazer e assino. Vigário Moysés Ferreira do Nascimento. Camilo Lutero Avelino casou com Maria Angelina dos Santos Amaral. Desse casal nasceram Íris Amaral Avelino e Lígia Amaral Avelino.

Quanto a Vicente Avelino não localizei seu batismo. Em 1915, na estação de Olaria, Rio de Janeiro, foi inaugurado o Externato Avelino, sob a direção mental de Pedro Avelino, tendo como professores Isolina e Vicente, que além das aulas normais, oferecia curso especial de francês, inglês, alemão e italiano. Encontro informações, em antigos jornais da Hemeroteca Nacional, que ele, Vicente Avelino, serviu no consulado brasileiro em Nova York e Paris, e foi cônsul do Brasil em Calcutá. Quando esteve em Paris (onde o pai morou 9 meses para tratamento de saúde) publicou um livro com o título “Ideário”, que recebeu criticas desfavoráveis, no “Gazeta de Notícias”, em 1927.

Dos jornalistas do Rio Grande do Norte, Pedro Avelino foi um dos mais importantes. Merece uma boa biografia!
Isolina e Luiz Waldvogel

28/10/2013


Acauã vai à Pitombeira
O sertanejo quer esquecer o dia em que seus olhos contemplam a paisagem cinza de sua dor: a jurema morta na caatinga; o açude na agonia de uma parede a represar poeira de um solo queimado; o gado, na sua fraqueza, mugindo baixinho; e o vaqueiro, por não ouvir o chamado da rês, sequer lhe deu a extrema unção de um olhar triste.
Ainda assim no sertão de pedra e de chão seco, a alegria chega com o clarão da lua.
Cavaleiros e amazonas conferem os arreios. É dia de cavalgada à luz do luar. Tudo começa no olho d’água do bico da arara. Maurício na sanfona faz a gente dançar um xote. O intervalo marca o início das declamações.
Não demora muito. As luzes do salão são apagadas. A lua vem surgindo bem devagar no dorso da serra. Um cavaleiro faz confidências diante do rosto enluarado da amazona apaixonada. A tênue luz da natureza se faz manto e envolve os amantes.
Meia hora mais de prosa, verso e sanfona. A cavalgada começa pelos caminhos da ribeira de acauã.
A alegria toma conta da cavalgada porque a noite escondeu as matizes dos desencantos. E o dia que mostrava ao sertanejo as folhas caídas do juazeiro era um ontem de cinzas de coivara – passado a não ser lembrado.
Aqui e acolá sob o som cadenciado do tropel da cavalgada, ouvia-se de um cavaleiro a extensão sonora de sua emoção quando cantava canções de antigamente num suave: “ontem ao luar, nós dois em plena solidão...”.
Cessa o tropel. É hora da cachaça. Uma amazona se encanta com a lua beijando a pedra. E o reflexo na sua alvura alumia o copo. Bebida a cana, o cavaleiro diz que os fios do luar foram tecidos para guardar o corpo da sua amada mulher. Talvez por isso seja o amor o sentimento que tecendo o carinho faça do coração a morada eterna do luar como cobertor iluminado, guardando, a um só tempo, amante e amada.
Mais adiante, está o Ingá. E o bico da arara continua no alto da serra como atalaia daquele recanto onde tombou Otávio Lamartine - o filho ilustre do seridó, numa noite de 13 de fevereiro de 1935.
A Cavalgada ali faz uma parada. A casa está do mesmo jeito. O chão nada mudou. O terreiro recebe da lua um fio dourado de luar e, da cavalgada, um pouco de silêncio. E alguém interrompe a ausência de conversa para dizer: “foi um ato covarde!”.
O tropel continua a sua marcha. Não muito longe, se vê a luz arte da Pitombeira.
Uma encruzilhada! Alguns cavaleiros escolhem um caminho cujo destino era Carnaúba dos Dantas – terra de Tonheca Dantas, compositor da mais bela valsa do Brasil – Royal Cinema. A interseção de caminhos, numa cavalgada, impõe decisão, por vezes, que nega ao séquito o destino almejado. Não é diferente quando, na existência humana, ocorre a interseção de sonhos. O coração sentimental não aprendeu a conviver bem com a simultaneidade lírica. Assim, o cruzamento de expectativa amorosa implicará sempre em renunciar um desejo para salvar o antigo amor.
Um cavaleiro vai apressado avisar aos demais da cavalgada que aquele caminho não tem como destino a Pitombeira - a Canaã da nossa acauã.
Reunidos novamente, avistamos as luzes do terreiro da casa grande da Pitombeira. O último gole da cachaça desce com a alegria de todos.
Chegamos! A lua beijou o chão daquele canto, cobriu com seu manto luminoso o rosto cansado mas feliz dos filhos da ribeira de acauã.
A cavalgada à luz do luar por algumas horas se esqueceu da cor cinza da caatinga. (À madrinha da cavalgada – Ana Paula de
Albuquerque)

Francisco de Sales Felipe
Advogado

27/10/2013


                Ah! No meu tempo.

AUGUSTO LEAL, engenheiro

Ouvi muito meu pai falar, no meu tempo as coisas eram bem melhor e eu pensava comigo mesmo. “Papai brincou muito, teve muitas alegrias e não esquece.” Pensava ainda. O que passou. passou. Mas não é bem assim. Hoje não digo a mesma coisa, mais repito. No meu tempo as coisas eram diferentes. A minha juventude tinha hábitos mais saudáveis, era mais romântica, menos violenta mas,  às vezes penso comigo mesmo,  era mais bonita, porque eu era jovem, e sem dúvida a juventude é a época mais bonita do nosso viver. É tanto que é gostoso se falar ou recordar as boas coisas passadas, então resolvi voltar ao passado, fazer uma pequena viagem no tempo.
            Natal, a nossa cidade não era violenta, quase não se ouvia falar em drogas, quando aparecia, eram cinco gatos pingados, aliás, drogados.  Assassinatos? Raridade, assaltos não existia, era uma cidade calma, onde ás noites a juventude saia para fazer belas serenatas para namoradas ou amigas. “Mulher casada que anda sozinha, é andorinha.” Assim era a marchinha de carnaval, vejam a diferença, quase que não existiam cornos, era palavra só usada em momento de raiva, hoje hem? Tem mais corno rondando por aí que mosquito da dengue, que, aliás, ninguém ouvia falar no tal mosquito, o único mosquito famoso era Mosquito jogador de basquete.
            O Grande Ponto. Não existia shopping, então a Rua João Pessoa, Rio Branco, Ulisses Caldas, Princesa Isabel, e Avenida Deodoro era ponto de encontro para papos e namoros, encontros nos Cinemas Nordeste, Rex, Rio Grande, saídas das garotas dos Colégios das Neves e Imaculada da Conceição pelas manhãs, e à tardinha do nosso querido Atheneu. Ainda existia a saída da Escola Normal, que ficava na Praça Pedro Velho. Mas voltando ao Grande Ponto, ficava ou fica? Não sei, mas vamos para o passado, ficava na Rua João Pessoa, ia da Av. Deodoro até o Cinema Nordeste, lá a rapaziada ficava em pé papeando, e as moças mostrando suas belas mini saias ou suas melindrosas em um desfile sem juízes e sem holofotes, as luzes? Eram os nossos olhos, ou o sol que dava graça aquele belo espetáculo. A moda era o corte de cabelo Chanel, por isto ficavam todas parecidas, a cabeleleira do momento era Dá Luz e só tinha ela.
            Quando era o Natal aquele quadrilátero ficava todo iluminado e o comércio abria a noite, então se tornava uma grande festa, lá ficavam os magazines e confeitarias mais famosos da cidade, Confeitaria Cisne, Casas Vesúvio, Joalharia Nasser, Waldemir Germano (fotos), Loja Quatro e Quatrocentos, Duas Américas, Formosa Síria, Casa Rio, Lanchonete Ki-Show, Lanchonete e Bar Dia e Noite, Café Maia e São Luiz, Sorveteria Oasis e outras. Neste mês ( dezembro) podíamos chegar em casa um pouco mais tarde, entre 22 e 23 horas, e mais nada, no outro dia tinha aula no colégio ou faculdade e “ai de quem duvidar.” A rapaziada mostrando os “possantes” automóveis. Fusca, DKW, Gordine ou Duaphine, Jeep, corcel, ou Rural Willys, estes eram os principais, os “mais ricos” andavam de Sinca Chamboard ou Aero Willys
 Nossos pais compravam queijo do reino, passas secas, ameixas, doces de frutas desidratadas, nozes, castanha do Pará tudo isto para a ceia do Natal, que vinha acompanhada do famoso peru.
            Depois do Natal, vinha o veraneio. As praias mais movimentadas eram: Redinha, Ponta Negra, Pirangi e Muriú. A nossa família passava o mês de janeiro na Redinha. Veraneio animado com as noites no Redinha Clube, e serestas pelas madrugadas. Existiam os veranistas tradicionais que possuíam casas na praia, estes eram visitados pelos rapazes nas madrugadas que faziam as serestas para suas filhas. Nesta época podia-se dormir de portas e janelas abertas.
            Termino aqui prestando uma homenagem a algumas pessoas e boêmios que viveram aquela época: Ivanildo e seu sax de ouro, Geraldo Pereira, João Juvanklin, Franklin, José Domingos, Francisco Januário, Liz Nôga, Luiz Carlos Guimarães, Woden Madruga, Celso da Silveira, José MelquÍades, José Alexandre Garcia, Francisco Nunes de Carvalho, Domício, Jahyr Navarro, Ney Marinho, Eimar Vilar.
            


26/10/2013


O quartel era o 21º ou 29º Batalhão de Caçadores?


Luiz Gonzaga Cortez


O 2º artigo da série sobre “O Athenu Feminino”, de autoria da
professora Lêda Gurgel Melo, publicado no último dia 17 do corrente,
página 2 deste JH, me chamou a atenção o  post-scriptum sobre o
quartel do 16º Batalhão de Infantaria Motorizado, cuja implantação em
Natal com a denominação de 16º Regimento de Infantaria – 16 RI, teria
sido originada da “junção  do 11º e 29º Batalhões de Caçadores
conforme Decreto nº 3344, de 06 de junho de 1941” e dá como fonte o
saite 16bimtz.eb.mil.br. Realmente, o saite do quartel de Natal cita o
11º e 29º BCs como as denominações do quartel que antecederam ao seu
novo local, na atual Avenida Hermes da Fonseca, bairro do Tirol, no
período inicial da II Guerra Mundial.
Como pesquisador dos acontecimentos políticos da década de 1930 no Rio
Grande do Norte, principalmente a revolta comunista de novembro de
1935, em Natal, iniciada no quartel do 21º BC, na Cidade Alta, o
artigo da professora Lêda Gurgel Melo, conforme já largamente
pesquisada e divulgada em todos os quadrantes do Brasil, trouxe essa
novidade sobre o suposto quartel do 11º BC. Eu nunca ouvi falar nem li
nada a respeito do “11º BC” em Natal. O saite do quartel, repito,
registra essa denominação. Mas, como perguntar não ofende, não teria
sido um equívoco, não trocaram o 21º pelo 11º? Há munição para se
argumentar contra essa nova versão da denominação do antigo quartel
da infantaria do Exército, em cujo terreno foram construídos o Colégio
Estadual Winston Churchill e a sede do SESC, entre as rua Junqueira
Aires e Av. Rio Branco?
Na verdade, o quartel antigo ficou conhecido como 29º BC, entre outros
motivos, pela publicação de um cartão postal, através da Livraria
Cosmopolita, de Fortunato Aranha, que vendeu milhares de exemplares,
no inicio da década de 30, no auge da Revolução de Outubro, que levou
Getúlio Vargas ao poder. Como sumiu o 29º BC de Natal?  Cada cartão
tinha a legenda “Quartel 29 B.C. Antigo – Natal”.
Segundo João Wanderley, um dos revoltosos de novembro de 1935, “O 29º
BC saiu em fins de 1932 de Natal para São Paulo e retornou em fins do
mesmo ano, depois de participar da Revolução Constitucionalista. O 21º
BC também saiu do Recife, em 1932, para combater a Revolução
Constitucionalista no interior de Mato Grosso e São Paulo. No Nordeste
de Mato Grosso, o 21º BC tentou se rebelar e ficar ao lado dos
“Constitucionalistas” de São Paulo. Por isso, como castigo, o 21º BC
foi removido para o Amazonas, na fronteira do Brasil com o Peru e a
Colômbia, estavam em guerra. O 21º BC não retornou a Recife a Recife e
somente chegou a Natal no dia 13 de agosto de 1933, ocupando o quartel
do 29º BC na rua Junqueira Aires”. (Fonte: A Revolta Comunista de 1935
em Natal, pág. 168, Natal/RN, 2005, de Luiz Gonzaga Cortez). A
entrevista de João Wanderley foi publicada na reportagem intitulada
“Mr. Brauner quase era fuzilado”, na série de reportagens sobre o “O
comunismo e as lutas políticas do RN na década de 30”, no extinto
semanário O POTI,no segundo semestre de 1985.
Finalmente, o 21º BC foi desativado anos após a revolta de 1935, em
data que me é desconhecida, mas nos anos 1957/58, menino, eu vi
centenas de pessoas olhando para o alto para ver a passagem da “bola
brilhosa” , o satélite Sputnik sobre Natal, atraindo, inclusive os
soldados do Exército que guarneciam o prédio em ruínas, que ficavam na
calçada de tijolos e cimento onde foi edificado o “Winston
Churchill”,o homem que ordenou os ataques a 3 cidades alemãs, matando
mais de 200 mil civis, em 1945, sem enfrentar reação da população.
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Luiz Gonzaga Cortez é jornalista e escritor

25/10/2013




ARTIGO ESPECIAL 81 ANOS DA OAB/RN:
ECOS DA OAB NO EXILIO
MARCOS GUERRA – Vice Presidente
22/10/2013

Durante os “anos de chumbo” poucas instituições se destacaram no Brasil graças à destemida atuação de alguns de seus membros, e em particular de alguns de seus dirigentes. Dentre estas, pelo que pudemos acompanhar no exterior, destacam-se nitidamente a OAB, a CNBB e a ABI.
Apesar da natural diversidade de opiniões de seus integrantes, e convivendo até mesmo com algumas divisões internas, passado um período inicial hesitante ou adesista, as entidades assinaladas souberam preservar durante a maior parte do período sua fidelidade aos princípios que nortearam sua criação, principalmente a partir do endurecimento do AI-5 e da convicção que os governantes da hora pretendiam se eternizar no poder. Saíram reforçadas, porque lutaram diretamente contra os desvios de um poder arbitrário, e na maioria dos casos apoiaram as lutas em favor das liberdades, da dignidade, dos direitos humanos, e da democracia.
Desejamos destacar alguns dos ecos do exílio político, durante o período em que de longe podíamos atuar numa frente secundária para combater a ditadura civil e militar, e contribuir para denunciar as práticas que os governantes de então, e seus aliados, tentavam encobrir.
Através de mecanismos que se tornam pouco a pouco conhecidos, grupos organizados de exilados, podíamos lá fora não somente acolher algumas das vitimas dos porões da ditadura como também repercutir nas mais diversas instancias o que sabíamos. Atos e fatos que aqui se tentava esconder da maioria da população brasileira. Por isto alguns de nós chegamos a ser perseguidos pela famosa Operação Condor, tivemos passaportes confiscados, nomes vetados para ocupar funções em órgãos especializados da ONU, perseguições por agentes da repressão ocupando funções diplomáticas, e outras peripécias.
Por ocasião de mais um aniversário da OAB desejamos ressaltar os ecos que recebíamos sobre sua ação, ecos que procurávamos multiplicar e repercutir. Contribuímos para repercutir denuncias de violências que atingiram diretamente as três instituições, ou seus integrantes mais destacados, mobilizando apoio e solidariedade de setores representativos nos países onde atuávamos, de forma a isolar cada vez mais os que tentavam mascarar a ditadura.
Destaque-se a franca oposição da OAB à Lei de Segurança Nacional, e à violação das prerrogativas dos Advogados na defesa de presos políticos, posição clara desde junho de 1964 quando o Conselho Federal decidiu que os advogados cujos direitos políticos foram suspensos não estavam impedidos de exercer sua profissão. Em resposta, métodos espúrios e covardes, bombas como a que destruiu um andar da sede da ABI (Agosto de 1976), a que vitimou na sede da OAB (Agosto de 1980) a funcionaria Lyda Monteiro da Silva, destinada ao seu Presidente SEABRA Fagundes. Para a Igreja Católica, destacam-se perseguição direta ou a auxiliares de Bispos como Dom Helder Camara, Dom Paulo Evaristo Arns, Dom Pedro Casaldaliga e Dom Valdir Calheiros, entre tantos outros.
Dentre tantos outros, um resultado exemplar. Não conseguiram impedir articulação vitoriosa, altamente confidencial, entre Advogados e Igrejas, incluindo em Genebra o Conselho Ecumênico das Igrejas, que ajudou a catalogar e conservar extensa documentação recolhida por Advogados brasileiros. Documentos que percorreram caminhos na época indizíveis e com parceiros rigorosamente selecionados. Investigação perigosa e laboriosa, hoje no livro BRASIL – NUNCA MAIS, que recolheu testemunhos em 700 processos nos Tribunais, relatando torturas e maus tratos, denunciando torturadores mais conhecidos, ainda hoje impunes.

22/10/2013



Os nossos ilustres Peregrinos

João Felipe da Trindade (jfhipotenusa@gmail.com)
Professor da UFRN, membro do IHGRN e do INRG

Pelo menos, do meu conhecimento, cinco filhos de João Peregrino da Rocha Fagundes se destacaram nacionalmente: general Umberto Peregrino, que foi diretor da Biblioteca do Exército e do Instituto Nacional do Livro, e autor do livro “Crônica de uma cidade chamada Natal”; médico, jornalista e escritor Peregrino Junior, imortal da Academia Brasileira de Letras; engenheiro José Crisanto, que foi Superintendente do Porto do Rio de Janeiro, diretor comercial da Fábrica Nacional de Motores e Ministro Interino dos Transportes; médico e professor Armando Peregrino; e o jurista Miguel Seabra. Por isso, abrimos um artigo especial com essa família que juntou Rocha Fagundes com Seabra de Mello. Começaremos com casamento de João Peregrino e D. Cornélia.

Aos dezenove de junho de mil oitocentos e noventa e sete, nesta Matriz, precedido os proclamas, servatis servandis, assisti a celebração do sacramento do matrimônio de João Peregrino da Rocha Fagundes e Cornélia Seabra de Mello, presentes as testemunhas João Baptista de Caldas e Padre Manoel Luiz de Caldas Sobrinho. Os contraentes são filhos legítimos: ele de Joaquim Peregrino da Rocha Fagundes e Leonor Miquelina de Vasconcellos Fagundes, e ela de Miguel Augusto Seabra de Melo e Anna Leonor Seabra, e ambos são moradores e naturais desta Freguesia. Do que para constar mandei lavrar este que assino. O pároco João Maria Cavalcanti de Brito.

Dona Leonor, mãe de João Peregrino, faleceu no ano de 1878. Joaquim Peregrino era irmão do Reverendo Bartolomeu da Rocha Fagundes, que faleceu em Recife no ano de 1877, com 62 anos, e que foi Vigário da Freguesia de Nossa Senhora da Apresentação. Encontramos, na Gazeta de Notícias, do ano de 1888, o seguinte aviso do professor: Joaquim Peregrino da Rocha Fagundes explica mediante uma indenização cômoda, aritmética, geometria e álgebra, de acordo com o programa adotado pelo governo geral para os exames gerais de preparatório no império. Natal, 21 de março de 1888.

Do casal João Peregrino e Cornélia encontramos os registros de alguns filhos, sendo o mais velho deles: João Peregrino da Rocha Fagundes Junior, que  nasceu aos 12 de março de 1898, e foi batizado na Matriz de Nossa Senhora da Apresentação, aos 27 do mesmo mês e ano, tendo como padrinhos Capitão Miguel Augusto Seabra de Mello e D. Anna Leonor Seabra, avós do batizado. Ficou conhecido por Peregrino Junior.

Anna nasceu aos dezenove de outubro de 1900, e foi batizada aos vinte e dois de janeiro de mil novecentos e um, na Matriz de Nossa Senhora da Apresentação, tendo como padrinhos Leocádia da Rocha Fagundes e Maria da Rocha Fagundes. Há uma anotação no registro que ela casou, em 30 de agosto de 1941, com Roderico Valeriano de Moraes, na Igreja Nossa Senhora da Paz, do Rio de Janeiro.

José Crisanto Seabra Fagundes nasceu aos 26 de novembro de 1902 e foi batizado aos 27 de dezembro do mesmo ano, na Catedral, sendo seus padrinhos Alfredo Augusto Seabra de Mello e Aurélia Aurora Seabra de Melo.
Miguel Seabra que nasceu no dia 30 de junho de 1910,  foi batizado na Igreja Matriz pela Padre José Calazanas, sendo seus padrinhos Dr. Antonio China e Pocidonia Fagundes. Segue o casamento dele.

Aos trinta de maio de 1935, pelas dez horas, em oratório particular, à Rua João Pessoa, 263, desta paróquia de Nossa Senhora da Apresentação de Natal, por autorização do Exmo. Snr. Bispo Diocesano, depois de feitas as denunciações canônicas e demais formalidades prescritas, não aparecendo impedimento algum, quer canônico quer civil, como se vê do processo que fica arquivado nesta Freguesia, por palavras de presente, nas formas do ritual romano, em minha presença e na das testemunhas – os pais do nubente como abaixo se declara, por parte do nubente, Afonso Rique por procuração de Alberto Gentile, solteiro, funcionário publico e Hercilia Gentile, solteira, de afazeres domésticos, ambos naturais da Paraíba do Norte e residentes respectivamente na Bahia e nesta capital, por parte da nubente, todas pessoas muito de mim conhecidas, receberam-se em matrimonio Dr. Miguel Seabra Fagundes e Bemvinda Gentile, ambos solteiros, residentes e domiciliados nesta Freguesia, às ruas Duque de Caxias, 225 e João Pessoa, respectivamente, - ele magistrado, com 25 anos de idade, nascido a 30 de junho de 1910, nesta capital onde se batizou em tenra infância, filho legítimo de João Peregrino da Rocha Fagundes e Cornélia Seabra Fagundes, ambos já falecidos nesta cidade a 4 de setembro de 1934 e a 15 de outubro de 1916; e ela, de afazeres domésticos, com 20 anos de idade, nascida a 11 de abril  de 1914, em “João Pessoa” da Arquidiocese da Paraíba, onde foi batizada em tenra infância, filha legítima de Américo Gentile, casado, industrial, com 61 anos, e de sua esposa D. Carmela de Libero Gentile, de afazeres domésticos, com 54 anos, ambos naturais da Itália, casado a 31 de outubro de 1901, em São Paulo, residentes e domiciliados nesta Freguesia à Rua João Pessoa, 237; e em seguida, dei-lhes a benção nupcial, conforme o ritual. A nubente passa a assinar-se após o casamento: Bemvinda Gentile Seabra Fagundes. E para constar lavrei este termo que assino com os contraentes e as testemunhas.

Humberto Peregrino Seabra Fagundes nasceu aos 3 de novembro de 1911 e foi batizado (com H) aos 2 de dezembro do mesmo ano, sendo seus padrinhos Apolônio Augusto Seabra de Mello e Cecília Pinheiro.

Não encontrei o batismo de Armando Peregrino Seabra Fagundes, médico, professor da UFRJ. Mas, encontrei o batismo de um filho de Miguel Seabra.
Eduardo Gentile Seabra Fagundes nasceu aos 6 de maio de 1936, e foi batizado aos 30 do mesmo mês e ano, na Igreja Santo Antonio, filho legítimo do Desembargador Miguel Seabra Fagundes e Bemvinda Gentile Seabra Fagundes, sendo seus padrinhos Américo Gentile e Genoveva Gentile. Observem que em 1936, Miguel Seabra já era Desembargardor.
Batismo de Miguel Seabra Fagundes