04/11/2014

José Ramos de Oliveira e 

Izabel Maria da Costa


João Felipe da Trindade (jfhipotenusa@gmail.com)
Professor da UFRN, sócio do IHGRN e do INRG

José de Oliveira Ramos, dono do Engenho Salgado, lá em Porto de Galinhas, foi preso, logo no início da Revolução de 1817, e, mesmo com os apelos do seu amigo Tollenare, só foi liberado com o fracasso da mesma. O rico comerciante português e grande traficante de escravos, Bento José da Costa, não foi afetado pelas mudanças de poder. Na revolução, sua filha Maria Theodora casou com um dos líderes da mesma, Domingos José Martins. Posteriormente, casou seu filho Bento com Emília Júlia, filha de outro participante da Revolução, Gervásio Pires Ferreira, e, também, outra filha Izabel Maria da Costa, com José Ramos de Oliveira, filho do preso da revolução, José de Oliveira Ramos.

José Ramos de Oliveira e sua esposa foram padrinhos do meu bisavô, o tenente-cirurgião Francisco Martins Ferreira, como se vê do registro.

Francisco, filho legítimo do Major Jose Martins Ferreira, e de D. Josefina Maria Ferreira, nascido, aos sete de outubro de mil e oitocentos e quarenta e um, foi batizado aos seis de janeiro de quarenta, e dois em Macáo pelo Padre João Francisco Pimentel que lhe impôs, de minha licença, os santos óleos. Foram padrinhos o tenente-coronel José Ramos de Oliveira, e sua mulher Dona (Izabel) Maria da Costa, por seus procuradores em Macáo. Manoel Januario B. Cavalcanti. Vigário Encarregado de Angicos.

Quatro anos depois desse batizado, o padrinho faleceu, como podemos ver da notícia que encontramos no Anuário Político, Histórico e Estatístico do Brasil (Hemeroteca Nacional): o comendador José Ramos de Oliveira, um dos mais ricos capitalista de Pernambuco, principal acionista da Companhia Beberibe, membro da comissão diretora das obras do teatro público, cônsul de Dinamarca, e presidente da Associação Comercial da praça, faleceu em Pernambuco, no dia 7 de julho de 1846, em consequência de uma espinha no rosto, ao pé do nariz, a qual foi escarificada e tratada sem proveito.

Em 1848, Dona Izabel Maria da Costa Ramos, já viúva de José Ramos de Oliveira, fez seu testamento nomeando, como testamenteiros, seus irmãos Bento José da Costa (Jr.) e Joaquim José da Costa e mais seu guarda-livros João Evangelista da Costa e Silva. Nomeou, também, seu irmão Manoel José da Costa (futuro barão das Mercês), como tutor dos seus filhos menores Bento José Ramos de Oliveira de 10 anos e 4 meses, e Anna Isabel Ramos de Oliveira de 8 anos e 6 meses. Mesmo com a nomeação do tutor, deixou a responsabilidade, para que fossem conservados, tratados, educados e dirigidos, seus filhos, até alcançarem a maioridade, para sua irmã Francisca Escolástica Josefa da Costa.

Entre os bens da viúva constava, aqui na região do Assú, meia légua de terra no Rio Salgado, no lugar Santa Luzia, em que estava sentada a Fazenda do mesmo nome, com casa, currais e umas benfeitorias, tudo avaliado por quatro centos mil réis. Era seu procurador, aqui, Manoel de Melo Montenegro Pessoa.

Na Vila do Príncipe, o casal inventariado possuía duas Fazendas, Baixa Verde e Malhada. A primeira, que tinha como criador Manoel Casado da Fonseca, media meia légua de comprido e meia légua de largura, confinando pelo Sul com o Rio Seridó, pelo Norte com terras da Fazenda Malhada, pelo Nascente com terras de Pedra Branca, e pelo Poente com terras do Sitio Barra do Riacho Fundo. A segunda, na beira do Rio Seridó, que tinha como criador José Casado da Fonseca, media uma légua de comprido, com três léguas de fundo, confinando pelo Norte com a Fazenda dos Patos, pelo Nascente com as terras da Fazenda Saco dos Martins, pelo Sul com terras da Barra do Riacho Fundo, e pelo Poente com o Rio Seridó. 

Em 1849, Dona Izabel já era falecida. Entre os documentos, do inventário, encontramos um pleito do tutor de Anna Izabel, no inicio de 1860, ao Juiz de Órfãos, nos termos a seguir: Diz Manoel José da Costa, tutor da órfã D. Anna Izabel Ramos de Oliveira, filha do finado comendador José Ramos de Oliveira, que tem contratado casar sua tutelada, a qual já conta dezenove anos de idade, com o Bacharel Bento José da Costa, primo legítimo da mesma senhora. E porque apesar de entender o suplicante, que esse consórcio é vantajoso para sua tutelada não pode, todavia, realizá-lo sem o consentimento de V. Sª, vem requerer a V. Sª, digne-se concedê-lo mandando passar para este fim o respectivo alvará.

Com a expedição do alvará veio o casamento da filha da inventariada com o filho do inventariante: Aos onze de fevereiro de 1860, na capela de Nossa Senhora da Conceição de Ponte de Uchoa, pelas sete horas e meia da noite, dispensados em segundo grau de consanguinidade, e juntamente os banhos, por sua Excelência Reverendíssima, como consta dos documentos, que ficam em meu poder, e não apareceu impedimento algum, de licença do Reverendo Coadjutor Pro pároco, Manoel Cirillo de Oliveira, em presença do Padre Agostinho de Lima Cavalcante de Lacerda, e das testemunhas Bento José da Costa, e Comendador Manoel José da Costa, casados, ele morador na freguesia do Cabo, este nesta, se receberam em matrimônio por palavras de presente o Bacharel Bento José da Costa, com Dona Anna Izabel Ramos de Oliveira, ele filho de Bento José da Costa, e Dona Emília Júlia Pires Ferreira, esta filha do finado José Ramos de Oliveira e Dona Izabel Maria da Costa Ramos, ambos moradores e naturais desta Freguesia, e logo receberam as bênçãos nupciais do Rito Romano: do que para constar mandei fazer este assento que me assinei. O Vigário Manoel Joaquim Chavier Sobreira.
José Ramos de Oliveira, falecido em 1846

H O J E


 Resultado de imagem para logotipo da academia norte-riograndense de letras

TERÇA-FEIRA, DIA 04 DE NOVEMBRO

Teremos o lançamento de mais um número da Revista da ACADEMIA NORTE-RIO-GRANDENSE DE LETRAS, com organização e edição sob a responsabilidade dos escritores Manoel Onofre Júnior e Thiago Gonzaga. A Revista da ANRL vem sendo atualmente editada com regularidade, merecendo os parabéns da comunidade intelectual do Estado.

Horário: 17 horas

Local: sede da Academia, na Rua Mipibu.

03/11/2014

Marcelo Alves


Sobre Hélio Galvão

Menino de calças curtas, nascido em 1972, eu devo ter estado na presença de Hélio Galvão (1916-1981) um bocado vezes. Ele foi grande amigo da minha família pela inteireza da sua vida. Entretanto, estranhamente, não tenho qualquer recordação da presença física dele em minha infância.

Foi por “ouvir dizer”, como costumamos falar na linguagem jurídica, que dei conta, pela primeira vez, da existência daquele grande homem. Coisa de meados ou fim dos anos 80 e começo dos 90. Saindo da adolescência, eu entrava no curso de direito da Universidade Federal do Rio Grande Norte. Eram conversas entreouvidas, comentários de meu pai e de minha mãe e, sobretudo, histórias contadas pelo meu tio Aluízio Alves (1921-2006), cuja amizade com Hélio durou, atravessando dias tristes e alegres, toda uma vida. E tudo isso foi mais que suficiente para incutir no jovem estudante de direito uma forte impressão da genialidade de Hélio Galvão.

O tempo passou. Aprendi a ouvir e a ler mais criticamente. Aprendi a pensar (pelo menos acho que sim, o que, para qualquer cartesiano, já é alguma coisa). E o que era impressão tornou-se certeza. Hélio, a exemplo dos grandes polímatas de outrora, foi um homem genial, um escritor múltiplo e grande amante dos livros, um dos maiores homens que esta terra de Poti já produziu.

Hélio Mamede de Freitas Galvão nasceu em 18 de março de 1916 na sua amada Tibau do Sul. Fez o ensino médio já em Natal. Bacharelou-se em direito, pela antiga Faculdade de Direito de Alagoas, em 1950. Casou-se com Ilíria Tavares Galvão em 22 de setembro de 1936. Tiveram quatorze filhos. Religioso, de personalidade forte e poucas palavras, foi um ótimo marido e um maravilhoso pai. Faleceu, de problemas no coração, no seu escritório, em Natal, em 20 de outubro de 1981.

Nos seus 65 anos de vida, Hélio foi, entre outras coisas, um homem público (tabelião em Pedro Velho, Presidente da Fundação José Augusto e fundador do MDB), professor (em mais de uma faculdade do que hoje é a UFRN), jurista (e especificamente advogado militante), historiador, antropólogo, sociólogo, jornalista e cronista (em “A razão”, “A Ordem”, no “Diário de Natal”, na “Tribuna do Norte” e em “A República”), membro do Instituto Histórico e Geográfico do RN e imortal da Academia da Norte-rio-grandense de Letras.

Para se ter uma ideia da sua grandeza, em “Hélio Galvão (1916-1981): o saber como herança” (de 2007), sua biógrafa, Gilmara Benevides Costa, informa ser Hélio autor de quatorze livros (nove publicados em vida e cinco póstumos). Deles, destaco dois. O primeiro é a belíssima “Historia da Fortaleza da Barra do Rio Grande” (de 1999). Livro de qualidade extraordinária, em termos de conteúdo, estilo e formato, que merece ser referência em qualquer universidade ou biblioteca do mundo. Entre outras coisas, foi a partir dele, diz-se, que se consagrou, para o principal monumento da “Cidade de Natal”, a denominação de “Fortaleza” e não de “Forte”. O segundo é a edição em capa dura de “Cartas da Praia”, lançada em 2006, que agrupa, em belíssimo formato, com cerca de 400 páginas, três de seus livros de crônicas anteriores (“Cartas da Praia”, “Novas Cartas da Praia” e “Derradeiras Cartas da Praia”), crônicas essas publicadas originalmente no jornal Tribuna do Norte. As “Cartas da Praia”, além de extremamente fundamentadas, são, certamente, a obra mais lúdica de Hélio, de uma beleza poucas vezes alcançada nesta terra de Câmara Cascudo (1898-1986) .

Coincidentemente, ambos os livros - “Historia da Fortaleza da Barra do Rio Grande” e “Cartas da Praia” - estão, cada qual ao seu modo, relacionados ao mar, algo que Hélio Galvão tanto amava. Não ao “Mar Portuguez”, ao “mar sem fundo”, de Fernando Pessoa (1888-1935), mas ao mar de Natal (com sua Fortaleza na boca da barra) e, sobretudo, ao mar de Tibau do Sul, a Pasárgada de Hélio, com suas histórias e estórias, seus costumes, seus peixes, seus pescadores e seus barcos.

Hélio, ao tomar o barco que um dia todos nós iremos tomar, e navegar rumo ao desconhecido, deixou-nos, é verdade, como disse sua biógrafa, “o saber como herança”. Mas não foi só isso. Deixou-nos, também, um exemplo de homem e jurista de bem a ser seguido.

Marcelo Alves Dias de Souza
Procurador Regional da República
Doutor em Direito (PhD in Law) pelo King’s College London – KCL
Mestre em Direito pela PUC/SP

02/11/2014

SEMANA DE MUITAS EMOÇÕES

A SEMANA QUE SE INICIA TEM UMA AGENDA BASTANTE INTENSA, COM PROGRAMAÇÃO CULTURAL DE GRANDE IMPORTÂNCIA, ALGUNS EVENTOS COINCIDINDO NUM MESMO DIA, CONFORME ABAIXO INDICADO:

 
TERÇA-FEIRA, DIA 04 DE NOVEMBRO
 
Teremos o lançamento de mais um número da Revista da ACADEMIA NORTE-RIO-GRANDENSE DE LETRAS, com organização e edição sob a responsabilidade dos escritores Manoel Onofre Júnior e Thiago Gonzaga. A Revista da ANRL vem sendo atualmente editada com regularidade, merecendo os parabéns da comunidade intelectual do Estado.
 
Horário: 17 horas
Local: sede da Academia, na Rua Mipibu.
 
 
QUARTA-FEIRA, DIA 05 DE NOVEMBRO

 

Ciclo Verdade e Memória: V Ato terá depoimento de Laly Carneiro


A Ordem dos Advogados do Brasil no Rio Grande do Norte realizará mais uma edição do Ciclo Verdade e Memória – V Ato - na próxima quarta-feira (05), às 17h, na Seccional Potiguar, com o depoimento de Laly Carneiro, primeira mulher no nordeste a ser presa por problemas políticos.
O evento é gratuito e destinado a advogados, estudantes de direito, integrantes de movimentos sociais e interessados na discussão. O objetivo é mostrar as bandeiras, lutas e circunstâncias pelas quais muitos foram presos, torturados, banidos e assassinados pelo regime militar.
A primeira edição do Ciclo aconteceu em 2012 com a participação do jornalista norte-riograndense  Dermi Azevedo (ex-preso político e um dos fundadores do Movimento Nacional de Direitos Humanos/MNDH), dos advogados Paulo Francinete e Roberto Furtado. A segunda edição contou com os depoimentos de Juliano Siqueira e Zé Rodrigues em 14 de junho de 2013. A terceira edição aconteceu no dia 27 de junho e contou com os relatos de Meri Medeiros e Antônio Capistrano no mesmo ano. E a quarta edição foi em Mossoró com o relato de Luiz Alves em 12/07/2013.
Ciclo Verdade e Memória – V Ato
Data: 05/11/2014
Local: Auditório da OAB/RN
Horário: 17h

Relato: Laly Carneiro
Aberto ao público
Por: Anne Medeiros


AINDA NO DIA 05 DE NOVEMBRO DE 2014


 
 
IGUALMENTE, NO MESMO DIA 05 DE NOVEMBRO


O INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO RIO GRANDE DO NORTE CONVIDA PARA A SOLENIDADE DE POSSE DE NOVOS SÓCIOS E REABERTURA DA SUA SEDE PARA OS PESQUISADORES
Rua da Conceição, 622 - Cidade Alta
DIA 05 DE NOVEMBRO DE 2014
19,30 HORAS
____________________________________

 
 
DIA 06 DE NOVEMBRO DE 2014
 



DIA 07 DE NOVEMBRO DE 2014
 


01/11/2014

CONDECORAÇÃO

O Presidente Honorário Vitalício do INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO RIO GRANDE DO NORTE - IHGRN, Escritor JURANDYR NAVARRO DA COSTA recebeu no dia 31 de outubro pretérito, a Medalha de Mérito Governador Dinarte Mariz, outorgada pelo Tribunal de Contas do Estado às pessoas que se destacaram em várias áreas de atuação na sociedade potiguar. O confrade referenciado se destacou no campo do Direito, com destacada atuação no Ministério Público, Procuradoria Geral do Estado e Secretarias de Estado, razão de regozijo de todos os que fazem o IHGRN e à comunidade potiguar, como um todo.
PARABÉNS AO HOMENAGEADO.

Por: GILENO GUANABARA, escritor



            O  FÊBÊAPÁ  QUE ASSOLA O P A Í S

            A história literária do Brasil tem sido pródiga em produzir satíricos e humoristas, cuja picardia amenizam os descalabros autoritários no campo da política, enquanto sacia o apetite popular necessário à expiação da labuta do dia a dia. Registros não nos faltam. Enquanto isso, a política e a História seguem as suas veredas.
Contam-se os inúmeros micos atribuídos ao Presidente Eurico Gaspar Dutra. Num deles, o general, que não dominava o idioma inglês, apesar de ter participado no teatro europeu da Segunda Grande Guerra, tinha certa obsessão pelo uso da palavra between. Sem que apercebesse o sentido literal da palavra, costumava dirigir-se aos visitantes americanos a quem recebia, convidando-os a adentrar no seu gabinete. Usava a expressão between, between tornando confuso o ambiente da visita. A expressão prepositiva se traduz por (estar) entre, confundida pelo presidente com o verbo go.
Tivemos entre nós a passagem de Aparício Tonelli, o Barão de Itararé, o qual nos reservou mordazes tiradas algumas dirigidas ao presidente Getúlio Vargas. Conta-se que, destacado para uma cobertura jornalística no Palácio do Catete, no Rio de Janeiro, dada a visita que Getúlio fazia à Câmara Federal, que naquela época funcionava no Palácio Monroe, o presidente se deparou com Aparício. Ao se aproximar da escadaria onde se encontrava Aparício, Getúlio a ele se dirigiu, referindo-se com menoscabo: És tú, Barão ?... Ao que imediatamente Aparício deu como resposta: Tubarão, és tu...
            A conduta prosaica e amigável de Juscelino no trato com seus adversários fê-lo o presidente da distensão. Não foi por acaso que a paródia dos menestréis da época lhe conferia o epíteto de Presidente Bossa Nova. Ao tomar posse, Juscelino teve convivência respeitosa com os deputados da incansável Banda de Música, formada por Aliomar Baleeiros, Carlos de Lacerda, José Sarney, aguerridos quadros da União Democrática Nacional-UDN. Antes do suicídio de Getúlio (1954) ultimaram-se os ardis, de início, em cooptar Café Filho, enquanto Vice-Presidente. Depois, com a posse de Café na Presidência da República, os entreveros que visavam impedir a candidatura de Juscelino, de derrotá-lo nas urnas ou, por último, tornar inviável a sua posse e o seu governo. Nos primeiros anos de governo, ocorreram as revoltas de Jacareacanga e a de Aragarças, por grupos de militares integrantes da Aeronáutica, as quais foram abafadas. Decorridos menos de seis meses, Juscelino anistiou os militares.
            Enquanto se deleitava, deixando-se fotografar sem os sapatos, desvencilhados nas solenidades oficiais, com furos das meias expostos, Juscelino entoava a paródia do folclore – como pode um peixe vivo, viver fora d’água fria. Foi o tempo em que concluía a construção da nova capital. Se, de um lado, o governo de Juscelino fora complacente com a inflação, em escalada crescente nos anos da década de 1950, de outro modo, politicamente foi respeitoso com a oposição que não se desarmara, apesar do desgaste político provocado pela morte súbita de Getúlio. Sucediam-se os manifestos sediciosos dos comandos militares, os pronunciamentos parlamentares vigorosos da UDN e o combate persistente da Tribuna da Imprensa, diário pertencente ao jornalista Hélio Fernandes. Apesar da crise inflacionária na economia, Juscelino impulsionou o polo metalúrgico de São Paulo e deu início ao promissor ciclo econômico auto viário, no país.
            O golpe de 1964 teve o apoio de Juscelino, dentre outros civis que imaginaram preservar um espaço, ao fim do qual retornariam a seus projetos político-pessoais. Mas o ato que visa uma banana, alcança o total do balaio. O golpe ceifou um a um os líderes civis, fossem da oposição ou da situação. O golpe perdurou por quase vinte anos.
            Um cronista carioca, radialista, jornalista e apresentador de TV, nascido no ano de 1923, tornou-se célebre por suas pitadas humorísticas, quando da histeria golpista que assolou o país. O seu nome, Sergio Porto, foi substituído por Stanislau Ponte Preta. A truculência dos militares, em público ou em solenidades, servia de alvo para a crítica rigorosa dos jornais ou das revistas. Ao rigor de seu humor implacável, Stanislau Ponte Preta cunhou o despautério psicótico com que a ditadura combateu os setores discordantes da esquerda. Chamava o novo regime de o fêbêapá, iniciais de O Festival de Besteira que Assola o Brasil. A expressão fêbêapá ganhou foro geral na linguagem falada, em referência a tudo o que contrariasse a lógica e o bom senso, inclusive na política.
            Numa de suas crônicas, Sérgio Porto contou a saga de um recifense bisbilhoteiro que costumava atribuir boatos nas ruas do Recife, tendo em vista os militares, a partir do Bar Savoy, ponto de encontro boêmio e literário da Avenida Guararapes, exatamente nos dias imediatos ao golpe de 1964. Articulada a repressão policial em busca do boateiro que circulava incólume, eis que afinal o elemento viu-se preso e foi conduzido à autoridade militar competente. Devidamente interrogado, o comando militar, simulando-se contrariado, sentenciou a ordem para que o preso fosse sumariamente fuzilado. Posto diante do muro, com os olhos cobertos por uma tarja preta, foi dada ordem ao pelotão de atirar. Só que os fuzis não portavam balas de verdade. Ouviu-se o estampido e o elemento desmaiou e caiu, tão só pelo medo que sofreu. Ainda desacordado foi conduzido ao hospital da Guarnição Militar.
            Ao acordar, o boateiro estava sob uma maca, em estado lastimável. Havia defecado na roupa e chorava compulsivamente, agradecido por ainda se achar vivo. O comandante da Guarnição deu-lhe o rapa final. Daquela vez, iria lhe conceder liberdade, mas se retornasse à boataria e a uma nova prisão, os tiros seriam com balas de verdade. O boateiro concordou com as condições. Saiu, caminhou pelas ruas agraciado com a liberdade alcançada. Ao se aproximar do centro do Cais do Porto do Recife, encontrou-se com antigos companheiros, os quais lhe indagaram pelas últimas novidades. O boateiro baixou a voz e em sussurro disparou: O Exército está em crise. Não tem balas de verdade, só dispõe de balas de festim.

GUTENBERG COSTA CONVIDA

Lançamento do ano:

Pesquisador e folclorista Gutenberg Costa, lança livro de crônicas, artigos e notas de viagens pelo RN e resto do país, em 06 de Novembro próximo.

Por Adriana Brasil- Assessoria e Divulgação Cultural.

   Diversas crônicas e artigos publicados em jornais do RN e outras tantas inéditas estão reunidas na obra: “Cultura Popular: Vivências e Anotações de um Pesquisador Folclorista”, do escritor natalense Gutenberg Costa. O coquetel de lançamento será dia 06 de novembro, às 18h, no Instituto Câmara Cascudo, casarão em que morou parte da vida o mestre folclorista Luís da Câmara Cascudo (1898-1986), em Natal.
   O livro de 235 páginas, todo ilustrado com xilogravuras de renomados artistas do Nordeste, editado em coedição da editora 8/UBE, é fruto de um longo apanhado das vivências e viagens do pesquisador. Anotações de agenda e entrevistas com inúmeros folcloristas, poetas populares, artistas populares, grupos folclóricos e situações engraçadas vividas ao longo de 30 anos de atuação em pesquisas sobre a cultura popular no Nordeste e resto do Brasil. Aqui no RN, o autor não esqueceu de seus mestres, Gumercindo Saraiva, Veríssimo de Melo, Deífilo Gurgel, Padre Zé Luiz,  Celso da Silveira, entre outros. Também não deixou de fora de sua obra, os saudosos amigos envolvidos com a nossa cultura popular: Chico Traíra, Luiz Campos, Zé Saldanha, Severino Guedes, Cornélio Campina, Renato Caldas, entre outros. O mesmo destaca ainda os pregoeiros de rua, os apelidos e nomes estranhos de pessoas que encontrou em viagens pelo RN, como também frases em para choques de caminhões, avisos de fiados em botecos e perfis de dezenas de tipos populares encontrados nas diversas cidades do RN. 

AUTOR: Em seus trabalhos, Gutenberg Costa, sempre retrata o cordel, expressões vocabulares, a culinária, a medicina popular, a religiosidade, o cangaço, apelidos, e os tipos populares. “Nasci em 1959, pobre e teimoso. Me criei na feira do Alecrim e disso eu não poderia fugir. Minha obra vai ao encontro de tudo o que já vivi. Não deixa de ser um livro de quase memórias, como classificou esse gênero, o sábio escritor Carlos Heitor Cony”, revelou  Gutenberg Costa.
Gutenberg é pedagogo, bacharel em direito e pós- graduado em Educação Ambiental (UFRN), com vários cursos em folclore e história. Participou como conferencista em inúmeros congressos e seminários de cultura popular/folclore, representando o RN. O mesmo atualmente é membro do Instituto Histórico e Geográfico do RN e preside a Comissão Norte Rio Grandense de Folclore. E como escritor já publicou mais de vinte livros. Alguns títulos: “Profetas do Nordeste” (1994), “A Presença de Câmara Cascudo na Literatura de Cordel” (1998), “Natal: Personagens Populares” (1999), “Dicionário Papa-jerimum de Apelidos” (2001) e “Dicionário de Cordelistas do RN” (2004).

OBRA: “Cultura Popular: vivências e anotações de um pesquisador folclorista”. Apresentação do folclorista potiguar Severino Vicente. Comentário de orelhas, do folclorista mineiro Ulisses Passareli. Contra capa comentário das educadoras e filhas do escritor, Elaynne e Sarah. 235 páginas. Editora 8. 

LANÇAMENTO: Local: Instituto Câmara Cascudo/Ludovicus - Avenida Câmara Cascudo, 377 - Cidade Alta. Hora: 18h do dia 06 de novembro de 2014, com um coquetel regional oferecido ao público presente. Haverá apresentações artistas de forrozeiro a mamulengueiro.
CONTATO COM O AUTOR: gutenbergcosta@bol.com.br - 84 – 94273363 / 98784493.