07/09/2016

7 DE SETEMBRO


Independência do Brasil

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Independência do Brasil
Independence of Brazil 1888.jpg
Independência ou Morte, do pintor paraibano Pedro Américo (óleo sobre tela, 1888).
Outros nomesProclamação da Independência
ParticipantesPedro de Alcântara
José Bonifácio
Maria Leopoldina de Áustria
LocalizaçãoRiacho do IpirangaSão Paulo, Brasil
Data7 de setembro de 1822 (193 anos)
ResultadoSeparação política do Reino do Brasil do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves e instituição do Império do Brasil.
Independência do Brasil é um processo que se estende de 1821 a 1825 e coloca em violenta oposição o Reino do Brasil e o Reino de Portugal, dentro do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves. As Cortes Gerais e Extraordinárias da Nação Portuguesa, instaladas em 1820, como uma consequência da Revolução Liberal do Porto, tomam decisões, a partir de 1821, que tinham como objetivo reduzir novamente o Brasil ao seu antigo estatuto colonial.
Antecedendo o processo de independência do Brasil, mas com fortes influências sobre o mesmo, ocorre a transferência da corte portuguesa para o Brasil. Em 1807, o exército francês invadiu o Reino de Portugal que se recusa a se juntar ao ´bloqueio continental contra o Reino Unido. Incapaz de resistir ao ataque, a família real e o governo português fugiram para o Brasil, que era então a mais rica e desenvolvida das colônias lusitanas[1][2]. A instalação do Tribunal de Justiça no Rio de Janeiro traz uma série de transformações políticas, econômicas e sociais que levam à decisão do Príncipe Regente D. João, consumada em 16 de dezembro de 1815, de elevar o Brasil à condição de reinounido com sua ex-metrópole.
Porém, em 1820, uma revolução liberal eclodiu em Portugal e a família real foi forçada a retornar para Lisboa. Antes de sair, no entanto, D. João nomeia o seu filho mais velho, D. Pedro de Alcântara de Bragança, como Príncipe Regente do Brasil (1821). Fiel ao seu pai, o príncipe-regente vê sua condição complicada pela vontade política das cortes portuguesas em repatriá-lo e de retornar o Brasil ao seu antigo estatuto colonial. Oficialmente, a data comemorada para independência do Brasil é a de 7 de setembro de 1822, em que ocorreu o chamado "Grito do Ipiranga", às margens do riacho Ipiranga (atual cidade de São Paulo). Em 12 de outubro de 1822, o príncipe foi proclamado imperador pelo nome de Pedro I e o país leva o nome de Império do Brasil.
Assim começou a guerra de independência que vê nascer e atuar o exército brasileiro, formado a partir das tropas coloniais portuguesas, contra aquelas que permaneceram fiéis ao Reino de Portugal em algumas partes do país, evitando a desfragmentação do território.[3]. Em meio ao conflito, há o levantamento da Confederação do Equador, que pretendia formar seu próprio governo, republicano, mas foi duramente reprimido. Depois de três anos de conflito armado, Portugal finalmente reconheceu a independência do Brasil, e em 29 de agosto de 1825 foi assinado o Tratado de Amizade e Aliança firmado entre Brasil e Portugal. Em troca, o Brasil se comprometeu a pagar ao Reino de Portugal uma indenização substancial e assinar um tratado de comércio com o Reino Unido, para indenizá-lo por sua mediação.


Antecedentes

Origem do Brasil

Ver artigo principal: Colonização do Brasil
A terra agora chamada Brasil (nome cuja origem é contestada) foi reivindicada por Portugal em abril de 1500, com a chegada da frota portuguesa comandada por Pedro Álvares Cabral.[4]
colonização foi efetivamente iniciada em 1534, quando D. João III dividiu o território em doze capitanias hereditárias,[5][6] mas esse arranjo se mostrou problemático, e em 1549 o rei atribuiu um governador-geral para administrar toda a colônia.[7][8] Os portugueses assimilaram algumas das tribos nativas,[9] enquanto outras foram escravizadas ou exterminadas por doenças europeias para as quais não tinham imunidade,[10][11] ou em longas guerras travadas nos dois primeiros séculos de colonização, entre os grupos indígenas rivais e seus aliados europeus.[12][13][14]
Em meados do século XVI, quando o açúcar de cana tornou-se o mais importante produto de exportação do Brasil,[15] os portugueses iniciaram a importação de escravos africanos, comprados nos mercados de escravos da África ocidental.[16][17] Assim, estes começaram a ser trazidos ao Brasil, inicialmente para lidar com a crescente demanda internacional do produto, naquele que foi chamado ciclo da cana-de-açúcar.[18][19]

Transferência da corte portuguesa

A partir de 15 de julho de 1799, o Príncipe do BrasilD. João Maria de Bragança, tornou-se príncipe-regente de Portugal, pois sua mãe, a rainha D. Maria I, foi declarada louca pelos médicos. Os acontecimentos na Europa, onde Napoleão Bonaparte se afirmava, sucederam-se com velocidade crescente.
Desde 1801 que se considerava a ideia da transferência da corte portuguesa para o Brasil. As facções no governo português, entretanto, se dividiam: a facção anglófila, partidária de uma política de preservação do Império Colonial Português e do próprio Reino, através do mar, apoiados na antiga aliança Luso-Britânica; e a facção francófila, que considerava que a neutralidade só poderia ser obtida através de uma política de aproximação com a França. Ambas eram apoiadas pelas lojas maçônicas quer de origem britânica, quer de origem francesa. Considere-se ainda que as ideias iluministas francesas circulavam clandestinamente em livros, cada vez mais abundantes.
A decretação do Bloqueio Continental em Berlim (1806) tornou mais difícil a neutralidade Portuguesa. Em 1807, o Tratado de Fontainebleau dividiu arbitrariamente Portugal em três reinos. Desde Outubro desse ano, Jean-Andoche Junot, antigo embaixador francês em Lisboa, preparava-se para invadir Portugal. Foi nesse contexto que D. João pactuou com a Grã-Bretanha a transferência do governo para o Rio de Janeiro, sob a proteção dos últimos.
Com a invasão francesa de Portugal em progresso, a 29 de novembro de 1807 iniciou-se a viagem da Família Real e da Corte Portuguesa. Dezoito navios de guerra portugueses e treze britânicos escoltaram mais de vinte e cinco navios mercantes de Lisboa até à costa do Brasil. A bordo seguiam mais de quinze mil portugueses. O Reino ficava a ser governado por uma Junta de Regência que Junot logo dissolveu.
Com a presença da Família Real Portuguesa no Brasil a partir de 1808, registrou-se o que alguns historiadores brasileiros denominam de "inversão metropolitana", ou seja, o aparelho de Estado Português passou a operar a partir do Brasil, que desse modo deixou de ser uma "colônia" e assumiu efetivamente as funções de metrópole. Pressionado pelo triunfo da revolução constitucionalista, o soberano retornou com a família real para Portugal, deixando como príncipe regente no Brasil o seu primogênito, D. Pedro de Alcântara.

Reino Unido com Portugal


Aclamação do Rei Dom João VI do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves, no Rio de Janeiro.
Com o fim da Guerra Peninsular em 1814, os tribunais europeus exigiram que a rainha Maria I e o príncipe regente D. João regressassem a Portugal, já que consideravam impróprio que representantes de uma antiga monarquia europeia residissem em uma colônia. Em 1815, para justificar a sua permanência no Brasil, onde a corte real tinha prosperado nos últimos seis anos, o Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves foi criado com a elevação do Estado do Brasil à condição de reino, estabelecendo, assim, um Estado monárquico transatlântico e pluricontinental.[20]
No entanto, isso não foi suficiente para acalmar a demanda portuguesa pelo retorno da corte para Lisboa, como a revolução liberal do Porto exigiria em 1820, e nem o desejo de independência e pelo estabelecimento de uma república por grupos de brasileiros, como a Revolução Pernambucana de 1817 mostrou.[20]
Em 1821, como uma exigência de revolucionários que haviam tomado a cidade do Porto,[21] D. João VI foi incapaz de resistir por mais tempo e partiu para Lisboa, onde foi obrigado a fazer um juramento à nova constituição, deixando seu filho, o príncipe Pedro de Alcântara, como Regente do Reino do Brasil.[22]

Independência

Cortes portuguesas


Cortes portuguesas em 1822
Em 1820, a Revolução Liberal do Porto eclodiu em Portugal. O movimento iniciado pelos constitucionalistas liberais resultou na reunião das Cortes Gerais e Extraordinárias da Nação Portuguesa (ou Assembleia Constituinte), que teria de criar a primeira constituição do reino.[23][24] As Cortes ao mesmo tempo que exigiram o retorno do rei Dom João VI, que vivia no Brasil desde 1808 e que elevou o Brasil para a categoria de reino, como parte do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves, em 1815. Seu filho e príncipe herdeiro Dom Pedro passou a governar o Brasil como regente no lugar do pai em 7 de março de 1821.[25][26] O rei partiu para a Europa em 26 de abril, enquanto Dom Pedro permaneceu no Brasil liderando o governo ao lado do ministros do reino.[27][28]
Os oficiais militares portugueses sediados no Brasil foram completamente solidários ao movimento constitucionalista em Portugal.[29] O principal líder dos oficiais portugueses, General Jorge Avilez, forçou o príncipe a demitir e banir do país os ministros do Reino e das Finanças. Ambos eram fiéis aliados de Pedro, que se tornou um peão nas mãos dos militares.[30] A humilhação sofrida pelo príncipe, que jurou que nunca iria ceder à pressão dos militares novamente, teria uma influência decisiva na sua abdicação dez anos depois.[31] Enquanto isso, em 30 de setembro de 1821, as Cortes aprovaram um decreto que subordinava os governos das províncias do Brasil diretamente ao governo de Portugal. O príncipe Pedro tornou-se, para todos os efeitos, somente o governador da Província do Rio de Janeiro.[32][33] Outros decretos que vieram depois exigiam seu retorno à Europa e também extinguia os tribunais judiciais criados por João VI em 1808.[34][35]
A insatisfação quanto às resoluções das Cortes foi generalizada entre a maioria dos residentes do Brasil (tanto os de origem brasileira quanto os de origem portuguesa), ao ponto em que ela logo se tornou conhecida publicamente.[32] Dois grupos que se opunham as ações das Cortes para minar gradualmente a soberania brasileira apareceu: os Liberais, liderados por Joaquim Gonçalves Ledo (que teve o apoio dos maçons), e os Bonifacianos, liderada por José Bonifácio de Andrada. Ambas as facções não tinham nada em comum em suas metas para o Brasil, com a única exceção de seu desejo de manter o país unido com Portugal como uma monarquia soberana.[36]

Rebelião Avilez

Ver também: Dia do Fico

Príncipe Pedro (direita) ordena o oficial português Jorge Avilez (esquerda) retornar a Portugal após sua rebelião malsucedida. José Bonifácio (em roupas civis) pode ser visto ao lado do príncipe.
Os membros das Cortes Portuguesas não mostravam nenhum respeito para com o príncipe e zombavam abertamente dele.[37] Logo, a lealdade que Pedro demonstrava pelas Cortes gradualmente foi transferida à causa brasileira.[34] Sua esposa, a princesa Leopoldina de Habsburgo, favorecia o lado brasileiro e encorajou o marido a permanecer no país,[38] enquanto os Liberais e Bonifacianos fizeram representações públicas.[39] A resposta de Pedro veio em 9 de janeiro de 1822, que, de acordo com jornais, falou: "Como é para o bem de todos e para a felicidade geral da nação, estou pronto: Diga ao povo que eu vou ficar."[40]
Depois da decisão de Pedro de desafiar a Cortes, cerca de dois mil homens liderados por Jorge Avilez amotinaram-se antes de se concentrar no Monte Castelo, que logo foi cercado por 10 mil brasileiros armados, liderados pela Guarda Real da Polícia.[41] Dom Pedro, em seguida, "demitiu" o comandante geral português e ordenou-lhe que retirasse seus soldados do outro lado da baía para Niterói, onde eles aguardavam o transporte para Portugal.[42]
José Bonifácio foi nomeado ministro do Reino e dos Negócios Estrangeiros em 18 de janeiro de 1822.[43] Bonifácio logo estabeleceu um relacionamento de pai com Pedro, que começou a considerar o experiente estadista seu maior aliado.[44] Gonçalves Ledo e os Liberais tentaram minimizar a estreita relação entre Bonifácio e Pedro oferecendo ao príncipe o título de Defensor Perpétuo do Brasil.[45][46] Para os liberais, era necessária a reunião de uma Assembleia Constituinte para o Brasil, enquanto os Bonifacianos preferiam que Pedro concedesse por si mesmo a Constituição para evitar a possibilidade de uma anarquia semelhante ao que ocorreu durante os primeiros anos da Revolução Francesa.[45] O príncipe concordou com os desejos dos liberais e assinou um decreto em 3 de junho de 1822 chamando para a eleição dos deputados que se reuniriam na Constituinte e Assembleia Geral Legislativa do Brasil.[46][47]

De reino unido a Império independente

Ver artigo principal: Império do Brasil

Príncipe Pedro rodeado por uma multidão em São Paulo depois de dar a notícia da independência do Brasil, em 7 de setembro de 1822.
Pedro partiu para a Província de São Paulo para assegurar a lealdade dos locais à causa brasileira. Ele alcançou sua capital em 25 de agosto e lá permaneceu até 5 de setembro.
Leopoldina, sua esposa, assumiu a regência durante a viagem. Diante das exigências de Portugal para que ambos retornassem a Lisboa, ela convocou uma sessão extraordinária do Conselho de Estado no dia 2 de setembro de 1822 e, juntamente com os ministros, decidiu pela separação definitiva entre Brasil e Portugal, assinando então a declaração de independência. Em seguida, enviou o mensageiro Paulo Bregaro para entregar a Pedro uma carta informando sobre o ocorrido.[48]
Em 7 de setembro, quando retornava ao Rio de Janeiro, Pedro recebeu a carta de José Bonifácio e de Leopoldina. O príncipe foi informado que as Cortes tinham anulado todos os atos do gabinete de Bonifácio e removido o restante de poder que ele ainda tinha. Pedro voltou-se para seus companheiros, que incluiu sua Guarda de Honra e falou: "Amigos, as Cortes Portuguesas querem escravizar-nos e perseguir-nos. A partir de hoje as nossas relações estão quebradas. Nenhum vínculo unir-nos mais" e continuou depois que ele arrancou a braçadeira azul e branca que simbolizava Portugal: "Tirem suas braçadeiras, soldados. Viva independência, à liberdade e à separação do Brasil." Ele desembainhou sua espada afirmando que "Para o meu sangue, minha honra, meu Deus, eu juro dar ao Brasil a liberdade" e gritou: "Independência ou morte". Este evento é lembrado como "Grito do Ipiranga".[49]
Ao chegar na cidade de São Paulo, na noite de 7 de setembro de 1822, Pedro e seus companheiros espalharam a notícia da independência do Brasil do domínio português. O príncipe foi recebido com grande festa popular e foi chamado de "Rei do Brasil", mas também de "Imperador do Brasil".[50][51] Ele retornou ao Rio de Janeiro em 14 de setembro e nos dias seguintes os liberais espalharam panfletos (escritos por Joaquim Gonçalves Ledo), que sugeriam a ideia de que o príncipe deve ser aclamado Imperador Constitucional.[50] Em 17 de setembro, o Presidente da Câmara Municipal do Rio de JaneiroJosé Clemente Pereira, enviada às outras Câmaras do país a notícia que a Aclamação iria ocorrer no aniversário de Pedro, em 12 de outubro.[52] No dia seguinte, a nova bandeira e brasão de armas do reino independente do Brasil foram criados.[53]

Coroação do imperador Pedro I em 1 de dezembro de 1822.
A separação oficial de Portugal só ocorreria em 22 de setembro de 1822, em uma carta escrita por Pedro a João VI. Nele, Pedro ainda chama a si mesmo de "Príncipe Regente" e seu pai é referido como o Rei do Brasil independente.[54] Em 12 de outubro de 1822, no Campo de Santana (mais tarde conhecido como Campo da Aclamação) o príncipe Pedro foi aclamado Dom Pedro I, Imperador Constitucional e Defensor Perpétuo do Brasil. Era ao mesmo tempo o início do reinado de Pedro e também do Império do Brasil.[55] No entanto, o Imperador deixou claro que, embora ele tenha aceitado o título, se João VI retornasse ao Brasil ele iria descer do trono em favor de seu pai.[56]
A razão para o título imperial foi a de que o título de rei iria simbolicamente significar uma continuação da tradição dinástica portuguesa e talvez do temido absolutismo, enquanto o título de imperador derivava da aclamação popular, como na Roma Antiga.[57] Em 1 de dezembro de 1822 (aniversário da aclamação de D. João IV, o primeiro rei da Casa de Bragança) Pedro I foi coroado e consagrado.[58]

Guerra e desdobramentos

Ver artigo principal: Guerra da independência do Brasil

Exército brasileiro adentrando Salvador após a rendição das forças portuguesas, 1823.
Consolidado o processo na região Sudeste do Brasil, a independência das demais regiões da América Portuguesa foi conquistada com relativa rapidez. Contribuiu para isso o apoio diplomático e financeiro da Grã-Bretanha.
Sem um Exército e sem uma Marinha de Guerra, tornou-se necessário recrutar mercenários e oficiais estrangeiros para comandá-los, do mesmo modo que adquirir meios. Desse modo, foi sufocada a resistência portuguesa na província da Bahia, na do Maranhão, na do Piauí e na do Pará. O processo militar estava concluído já em 1823, restando encaminhar a negociação diplomática do reconhecimento da independência com as monarquias europeias.
À semelhança do processo de independência de outros países latino-americanos, o de independência do Brasil preservou o status quo das elites agroexportadoras, que conservaram e ampliaram os seus privilégios políticos, econômicos e sociais.
Ao contrário do ideário do Iluminismo, e do que desejava, por exemplo, José Bonifácio de Andrada e Silva, a escravidão foi mantida, assim como os latifúndios, a produção de gêneros primários voltada para a exportação e o modelo de governo monárquico.
O Brasil negociou com a Grã-Bretanha e aceitou pagar indenizações de 2 milhões de libras esterlinas a Portugal num acordo conhecido como Tratado de Amizade e Aliança firmado entre Brasil e Portugal. A Grã-Bretanha saiu lucrando, tendo início o endividamento externo do Brasil. Quando D. João VI retornou a Lisboa, por ordem das Cortes, levou todo o dinheiro que podia — calcula-se que 50 milhões de cruzados, apesar de ter deixado no Brasil a sua prataria e a enorme biblioteca, com obras raras que compõem hoje o acervo da Biblioteca Nacional. Em consequência da leva deste dinheiro para Portugal, o Banco do Brasil, fundado por D. João ainda 1808, veio a falir em 1829.

Considerações historiográficas

Independência ou Morte!
— Pedro, regente do Brasil, futuro imperador do Brasil, 7 de setembro de 1822
1000 Réis de 1922.png1000 Réis de 1922 (verso).png
Moeda de 1000 réis de 1922 comemorando a independência.


A data comemorada oficialmente para a Independência do Brasil é 7 de setembro de 1822, dia em que, às margens do riacho Ipiranga, em São Paulo, o Príncipe Regente D. Pedro, ao receber a correspondência das Cortes, teria proclamado o chamado "grito da Independência", à frente da sua escolta: "Independência ou Morte!"

Outras datas podem ser consideradas historiograficamente para o evento, embora menos populares, são a data da coroação do Imperador (12 de outubro de 1822) ou mesmo a do reconhecimento da Independência por Portugal e pela Grã-Bretanha (29 de agosto de 1825). À época, em 1822, a data tomada como marco da Independência foi o 12 de outubro, dia do aniversário de Pedro I e de sua aclamação como imperador, conforme registrado pela historiadora Maria de Lourdes Viana Lyra, titular do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, e publicadas em 1995. A conclusão de seu estudo indica que o "grito" foi uma construção "a posteriori" e que acabou consolidado no quadro encomendado a Pedro Américo, produto da fértil imaginação do pintor, onde, entre outras incoerências, mostra D. Pedro cercado pela Guarda Imperial (os hoje chamados de Dragões da Independência), antes dele ser proclamado Imperador.[59].

Filmografia

Ver também

Referências

  1. Ir para cima  Andrade, Maria Ivone de Ornellas de. "O reino sob tormenta". In: Marques, João et alii. Estudos em homenagem a João Francisco Marques, Volume I. Universidade do Porto, sd, pp. 137-144
  2. Ir para cima  Valuguera, Alfonso B. de Mendoza Y Gómez de. "Carlismo y miguelismo". In: Gómez, Hipólito de la Torre & Vicente, António Pedro. España y Portugal. Estudios de Historia Contemporánea. Editorial Complutense, 1998, pp. 13-14
  3. Ir para cima  "História do Exército Brasileiro". Página acessada em 11 de outubro de 2012.
  4. Ir para cima  Boxer 2002, p. 98
  5. Ir para cima  Boxer 2002, pp. 100–1
  6. Ir para cima  Skidmore 2003, p. 27
  7. Ir para cima  Skidmore 2003, p. 27
  8. Ir para cima  Boxer 2002, p. 101
  9. Ir para cima  Boxer 2002, p. 108
  10. Ir para cima  Boxer 2002, p. 102
  11. Ir para cima  Skidmore 2003, p. 30, 32
  12. Ir para cima  Amantino, Marcia (2008), O mundo das feras: os moradores do Sertão Oeste de Minas Gerais – Século XVIII, AnnaBlume, p. 47, ISBN 978-85-7419846-0.
  13. Ir para cima  Soihet, Rachel; Abreu, Martha (2003) (Google Livros), Ensino de história: conceitos, temáticas e metodologia, Faperj/Ed. Casa da Palavra, p. 29, 2º§, ISBN 85-8722064-0http://books.google.com./books?id=G6zH9nsR7XAC&pg=PA29
  14. Ir para cima  Lopez, Adriana; Mota, Carlos G (2008), História do Brasil; Uma Interpretação, São Paulo: Ed. Senac, pp. 95 (final) à 97, ISBN 978-85-7359789-9.
  15. Ir para cima  Skidmore 2003, p. 36
  16. Ir para cima  Cashmore, Ernest (2000) (Google Livros), Dicionário de relações étnicas e raciais, SP: Summus/Selo Negro, p. 39, ISBN 85-8747806-0http://books.google.com./books?id=YDCm6WqtFBwC&pg=PA39
  17. Ir para cima  Lovejoy, Paul E (2002), A escravidão na África: uma história de suas transformacões, Record, pp. 51–56, ISBN 85-2000589-6.
  18. Ir para cima  Boxer 2002, p. 32–33, 102, 110
  19. Ir para cima  Skidmore 2003, p. 34
  20. ↑ Ir para: a b Jeffrey C. Mosher (2008). Political Struggle, Ideology, and State Building: Pernambuco and the Construction of Brazil, 1817-1850 U of Nebraska Press [S.l.] p. 9. ISBN 978-0-8032-3247-1.
  21. Ir para cima  Jeremy Adelman (2006). Sovereignty and Revolution in the Iberian Atlantic Princeton University Press [S.l.] pp. 334–. ISBN 978-0-691-12664-7.
  22. Ir para cima  Lustosa, pp. 109–110
  23. Ir para cima  Lustosa, p.97
  24. Ir para cima  Armitage. p.36
  25. Ir para cima  Lustosa, p.106
  26. Ir para cima  Armitage. p.38
  27. Ir para cima  Lustosa, pp. 109–110
  28. Ir para cima  Armitage. p.41
  29. Ir para cima  Lustosa, p.112
  30. Ir para cima  Lustosa, p.113–114
  31. Ir para cima  Lustosa, p.114
  32. ↑ Ir para: a b Lustosa, p.117
  33. Ir para cima  Armitage. p.43–44
  34. ↑ Ir para: a b Lustosa, p.119
  35. Ir para cima  Armitage. p.48–51
  36. Ir para cima  Diégues, p.70
  37. Ir para cima  Lustosa, p.120
  38. Ir para cima  Lustosa, p.121–122
  39. Ir para cima  Lustosa, p.123–124
  40. Ir para cima  Lustosa, p.124
  41. Ir para cima  Lustosa, p.132–134
  42. Ir para cima  Lustosa, p.135
  43. Ir para cima  Lustosa, p.138
  44. Ir para cima  Lustosa, p.139
  45. ↑ Ir para: a b Lustosa, p.143
  46. ↑ Ir para: a b Armitage. p.61
  47. Ir para cima  Lustosa, p.145
  48. Ir para cima  Dois de Julho: a Independência do Brasil na Bahia. Brasília: Câmara dos Deputados, 2015. Acesso em 7 de outubro de 2015.
  49. Ir para cima  Lustosa, pp. 150–153
  50. ↑ Ir para: a b Vianna, p.408
  51. Ir para cima  Lima (1997), p.398
  52. Ir para cima  Lustosa, p.153
  53. Ir para cima  Vianna, p.417
  54. Ir para cima  Vianna, p.413
  55. Ir para cima  Vianna, pp. 417–418
  56. Ir para cima  Lima (1997), p.404
  57. Ir para cima  Lima (1997), p.339
  58. Ir para cima  Vianna, p.418
  59. Ir para cima  [1]

Bibliografia

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  • Dolhnikoff, Miriam. Pacto imperial: origens do federalismo no Brasil do século XIX. São Paulo: Globo, 2005. (português)
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06/09/2016



   
Minhas livrarias em Buenos Aires (I) 

Já escrevi aqui, em mais de uma ocasião, sobre livrarias e sebos de capitais do mundo que, como estudante ou simplesmente “turistando”, visitei ou mesmo frequentei. Estabelecimentos em Londres, Paris, Madrid e por aí vai.
 

Hoje vou dar meus pitacos sobre os “comércios de livros” da capital da Argentina, a belíssima e querida Buenos Aires (e a rivalidade no futebol está longe de diminuir esse meu bem-querer), onde estive faz bem pouco tempo, mais uma vez com caneta e papel na mão, tudo anotando, já pensando em escrever este “roteiro” para os que “sofrem” do amor pelos livros.
 

Mas Buenos Aires, com sabemos, é enorme. A cidade propriamente dita tem cerca de 3 milhões de habitantes. Na sua região metropolitana, a terceira maior da América Latina (logo depois da Cidade do México e de São Paulo), moram algo em torno de 13 milhões de pessoas. E Buenos Aires, bem mais do que as grandes cidades brasileiras, proporcionalmente mais do que qualquer outra metrópole do mundo (li isso dia desses, embora não me lembre onde), conta com muitíssimos comércios de livros (mais um ponto para a capital portenha).
 

Em razão disso, tanto para tornar o nosso roteiro livresco minimamente exequível, como para não falar sobre o que desconheço – como, por exemplo, os muitos comércios de livros antigos/usados da extensa Av. Corrientes –, vou restringir meus pitacos, tomando por base os meus achados “in loco”, a quatro ou cinco regiões da cidade, todas de fácil acesso para o turista interessado na coisa.
 

Despretensiosamente, comecemos pela talvez mais turística região/rua de Buenos Aires, que alguns adoram (sobretudo os que vão “às compras”), outros odeiam (porque a acham, com certa razão, muito tumultuada ou mesmo decadente): a Calle Florida, no microcentro da cidade (de metrô, para a chegar a essa área do centro, as estações recomendáveis são Florida ou Lavalle). Particularmente, acho que a região da Calle Florida tem seus atrativos, sendo especialmente do meu agrado as merecidamente afamadas Galerias Pacífico (que ficam na esquina da Florida com a Av. Córdoba). Nessa famosa rua de comércio, na minha busca por livrarias e sebos, topei (e adorei esse “acidente”) com duas lojas da cadeia de livrarias El Ateneo, localizadas nos números 340 e 629, não muito distantes, portanto, uma da outra. As duas lojas são muito boas, com acervos diversificados (juntando as duas, tem de tudo, podem ficar certos), sendo a do número 629 particularmente bela. Aliás, para quem não sabe, a associação do grupo El Ateneo com a rede livrarias Yenny formou um gigante do comércio de livros na Argentina, com dezenas lojas espalhadas país afora. Por ali também se encontram duas lojas da rede Cúspide Libros (outra gigante desse comércio, com dezenas de “tiendas” distribuídas pelo país), uma delas nas já citadas Galerias Pacífico e a outra no número 628 da Calle Florida. Também vendem de tudo um pouco, e estão por mim aqui devidamente recomendadas.
 

Outra região importante do meu/nosso roteiro livresco é a Recoleta. E sobre a Recoleta, tenho certeza, ninguém vai falar mal. Melhor lugar para ficar não há. Central, chique, gastronômica, animada, bizarra (vide a visita de praxe que se faz ao cemitério local) e relativamente barata. Hospedado na Recoleta nessa minha última estada em Buenos Aires, tenho três livrarias para recomendar por aquelas bandas (todas elas acessíveis de metrô pela estação Callao). Em relação a duas delas, o faço não tanto pelos seus acervos, mas, sobretudo, pelo fato de elas serem, a meu ver, muito mais restaurantes/bistrôs que vendem bons livros de que outra coisa, numa mistura que achei interessantíssima. A primeira delas, cuja história remonta ao começo do século XX, chama-se Clásica y Moderna e fica no número 892 da Av. Callao. Recomendo demais, pela comida, pela programação cultural, pela beleza e pelos livros. A segunda, pequenina, minimalista, “cool”, com livros bem em conta, é a Distal Libros, que fica no número 1725 da Calle Junín, bem em frente ao famoso Cemitério. Um bistrô/livraria, com programação cultural constante, que descobrimos, para nossa felicidade (a minha, principalmente), vizinho, parede a parede, ao nosso hotel. E de quebra também há, nos fundos do Cemitério, no Recoleta Mall, no número 2036 da Calle Vicente López, uma loja da cadeia Cúspide Libros, enorme, vendendo de tudo, com um Starbucks conjugado, cafeteria que, confesso, é muito do meu agrado.
 

No mais, bem próximo do burburinho da Recoleta, no número 1860 da Av. Santa Fé (estação de metrô Callao), fica a mais famosa livraria de Buenos Aires, imperdível: El Ateneu Grand Splendid. O seu acervo, para ser sincero, embora tenha de tudo (filosofia, política, história, livros de arte, guias de viagens, ficção e por aí vai), levando em consideração a sua (enorme) fama e tamanho, deixa um pouco a desejar. Mas, ocupando o prédio de um antigo teatro (o Teatro Grand Splendid), ela é belíssima. Seu teto, suas bancadas, seus antigos camarotes, a cortina ainda presente, a iluminação, tudo isso impressiona e faz dela, certamente, uma das mais belas livrarias do mundo. O seu café, que fica no fundo da livraria, onde outrora foi o palco do teatro, é muitíssimo agradável, o que, sabemos muito bem, é deveras importante para o “turista literato”. E foi ali, recordo-me perfeitamente, que comprei um livro sobre Jorge Luis Borges (1899-1986, o meu escritor argentino preferido, que me desculpem os admiradores de Cortázar, Bioy Casarès, Ernesto Sabato e outros menos votados) e a literatura policial, interessantíssimo, sobre o qual prometo um dia aqui resenhar.
 

Bom, por ora, por falta de espaço hoje, paro por aqui. Mas prometo voltar na próxima semana, apresentando mais alguns dos meus “achados livrescos” em Buenos Aires. E, como vocês terão a oportunidade de conferir domingo que vem, esses foram, porque inusitados, os meus melhores “achados”.
 

Marcelo Alves Dias de Souza
 
Procurador Regional da República 
Doutor em Direito pelo King’s College London – KCL 
Mestre em Direito pela PUC/SP

05/09/2016

   
Tomislav R. Femenick

 
SOBRE O RIO MOSSORÓ (história, geografia e cartografia)
Tomislav R. Femenick - Historiador

Cortando o chão seco, pedregulhento e quase sempre gretado pelo calor do sol da zona oeste, corre o rio Apodi-Mossoró. Ontem, mais que hoje, ele tinha um papel determinante na existência dos seres que habitavam nas cercanias de sua bacia hidrográfica, que ocupa 28,5% da superfície do Estado, sendo a maior da Província, com cerca 18.100 km². É o segundo em extensão do Estado, com aproximadamente 164 quilômetros. Nasce na serra de Luís Gomes, no sudoeste do Rio Grande do Norte, próximo à divisa com a Paraíba, percorre 51 municípios e é alimentado pelas águas que escorrem da Chapada do Apodi, pelos riachos Bonsucesso, Cabelo Negro, São Raimundo e Pai Antônio e, ainda, por águas de riachos, córregos e extravasadas de açudes e barragens construídas em seu leito. Possui um único afluente, o rio Upanema ou do Carmo. Deságua no Oceano Atlântico, quando faz o limite entre os Municípios de Grossos e Areia Branca, com uma vazão de cerca de 360 milhões m³/ano. O escoamento é iniciado no mês de março, diminuindo, paulatinamente, nos meses seguintes, até se tornar nulo de novembro a fevereiro.

Na sua forma natural é um rio de regime temporário, não perene. No seu percurso alimenta alguns reservatórios naturais – neles se destacando a Lagoa de Apodi, circundada por terras de boa fertilidade –, corta a cidade de Mossoró no sentido sudoeste-nordeste, apresentando-se sinuoso nessa região e com várias lagoas nas proximidades de suas margens. Sua várzea apresenta larguras apreciáveis, da ordem de 500 a 1000 metros, porém vez ou outra se estreita, formando gargantas por onde, nas cheias, a água corre com mais violência.

Segundo Cascudo (1955, p. 15), na geografia há referências sobre o rio, que datam desde os primórdios do Brasil colônia. Nesse caso, estariam o Mapa de Nicolo (Nicolay) de Canerio Januensis, elaborado em 1505, que apresenta uma foz, como sendo do rio Sta. Maria da Rabida; as Cartas Marear de Pedro Reinel e Jorge Reinel, de 1516 e 1519, apresentam-no como o Rio de São Miguel (Sam Miguell); o Padrão Real de Alonso Chaves, de 1536, como o rio grande de Sainet Migiel, e o Tratado de Gabriel Soares de Souza (1587, p. 15), também dá o nome de São Miguel “a um rio volumoso que só pode ajustar-se ao Apodi-Mossoró”. Cascudo diz que:

“O topônimo Mossoró não aparece ainda na cartografia do século XVII. O Rio popular é o Upanema, Opanama, Opunamà, o Ywmanim, Ipanim, Ipiuim, Wapanem, Iwypanema dos mapas holandeses seiscentistas [...]. Verdade é que surge um rio “Murggeron” e “Mouggerou” (Johannes Jansson, 1653, de [Frederick de] Wit, 1871, o mapa que acompanha a “Descrition des Indes Occidentales”, de [Joannes de] Laet, 1625, 1640) que poderia ser um “Mossoró” deturpado e confuso. Mas não creio tratar-se do topônimo. O nome não era tão vivo nesse tempo”.

O francês Guillaume de Delisle, em sua “Carte de la Terre Ferme du Perou, du Bresil et du Pays des Amazones dressé sur les Descriptions de Herrera de Laet, et des PP. d'Acunã, et M. Rodriguéz et sur plusieurs relations et observations posterieures” (Provavelmente retirada do “Atlas Geographique & Universel avec la Géographie Ancienne & Moderne”), de 1720, faz referência ao Ywipanem rio Ipanen. José Monteiro de Carvalho, no Mapa dos confins do Brasil, com as terras da Coroa de Espanha na América Meridional, cita Ipanenin. No Mapa de todo o vasto Continente do Brasil ou América Portuguesa com as Fronteiras respectivamente constituídas pelos Domínios Espanhóis adjacentes, publicado em 1778 por Penalva do Castelo, é encontrado o “Rio Ipanema ou das Salinas” (Inácio, 1999, p. 31).

Em 1810, o rio ainda era mais conhecido com “Panema” ou “Upanema ou Salinas”, como citado por Koster (1942, p. 153 e 2ª prancheta). Sete anos depois, em 1817, De Casal (1947, vol. II, p. 212; 1976, p. 279) cita e descreve o rio com o nome de Rio Apodi somente:

[...] “ao qual dão quarenta léguas de curso, noutro tempo Upa¬nema, nome que hoje se apropria a outro menor, que se lhe une pela margem direita, três léguas acima da embocadura, corre quase sempre por terreno plano, onde há várias lagoas, que pouco a pouco lhes restituem as águas, que suas cheias lhes introduziram. Tais são entre outras a denominada Apanha-peixe, que tem uma légua de circuito. Paco, um pouco menor; a da Freguesia das Varges, que tem seis milhas de comprido, e pouca largura. Todas secam nos anos que não são chuvosos. Grandes canoas sobem até o Arraial de Santa Luzia, situado sobre a margem esquerda, seis léguas longe do Oceano. Deste sítio para baixo, estão as famosas salinas de Mossoró, cujo sal é alvo como a neve, e faz que aquelas paragens sejam vistosas e povoadas, e o rio visitado por grande número de embar¬cações, que o transportam a diversas partes”.

O rio Mossoró ou Apodi-Mossoró somente se firmou com o nome atual em 1857, quando a Marinha do Brasil realizou o primeiro estudo importante das costas brasileiras, fazendo o levantamento hidrográfico entre a foz do rio Mossoró e a foz do rio São Francisco. Esse trabalho foi elaborado pelo capitão de fragata Manoel Antônio Vital de Oliveira (1862).
SOBRE O RIO MOSSORÓ (história, geografia e cartografia)
Tomislav R. Femenick - Historiador